O relógio marcava 92 minutos e 42 segundos. Já poucos acreditavam. Menos ainda os que teriam apostado nele. Mas foi Francesco Acerbi, central italiano de 37 anos, quem apareceu no coração da área para resgatar o Inter da eliminação diante do Barcelona, nas meias-finais da Liga dos Campeões. Como um avançado, desmarcou-se no primeiro poste, antecipou-se a Araújo e cabeceou para a baliza: golo. Prolongamento. Esperança. E, sobretudo, redenção.
Para Acerbi, aquele instante não foi apenas o ponto alto da sua carreira — foi a metáfora da sua vida. Porque antes de ser herói em San Siro, foi sobrevivente.
Duas vezes venceu o cancro. Suportou o luto do pai, mergulhou numa depressão profunda, perdeu-se nos excessos e no álcool. “Não me respeitava, nem respeitava quem me pagava. Cheguei a treinar ainda com os efeitos do álcool. O cancro foi a minha sorte. Foi o que me obrigou a parar e a mudar”, recordou numa entrevista sincera ao L’Ultimo Uomo.
Chegou ao Inter em 2022, já com a bagagem cheia de cicatrizes e histórias. Passou por clubes como Chievo, Sassuolo, Lazio e Milan, foi campeão europeu com a seleção italiana e fez da resiliência a sua identidade. Nunca deixou de jogar. Nunca deixou de lutar.
Esta semana, marcou o primeiro golo da sua carreira em provas europeias. E fê-lo no momento mais improvável, no palco mais exigente, contra um adversário com nome e peso. O golo que obrigou o Barça a voltar aos fantasmas do passado e devolveu ao Inter o direito de sonhar com Istambul.
Acerbi pode não ter a velocidade de outrora ou o toque de um craque, mas tem aquilo que muitos não têm: a coragem de quem já esteve no fundo e soube voltar à superfície. E isso, quando o tempo escasseia e o destino parece traçado, pode fazer toda a diferença.
No futebol e na vida, há homens que chegam tarde ao estrelato. Mas quando chegam, ninguém os esquece. Acerbi chegou. E ficará.