No dia em que os benfiquistas acordaram com nervos à flor da pele, parecia que todos os benfiquistas estavam a ir para uma espécie de missa dominical… mas em plena quarta-feira. A diferença é que aqui não havia padre, isso já foi noutros tempos, mas sim José Mourinho do outro lado. Olhando para o falhanço na contratação de Arturkoglu, estava pronto para resmungar mais uma vez com a direção do Fenerbahçe, como quem se queixa do patrão porque não tem impressora no escritório.
Durante a semana, os jornais encheram-se de dramas. O Benfica, segundo alguns cronistas, precisava de “criativos e soluções”. Criativos? Nem vê-los. Soluções? Longe vão os tempos das aulas de físico-quimica no secundário. O que havia mesmo era fé, cachecóis vermelhos e litros de cerveja nas roulottes em redor do Estádio da Luz.
Os benfiquistas estavam prontos. O ambiente era de festa, mas uma festa daquelas em que sabes que a qualquer momento alguém pode partir um copo e dar barraca.
O apito inicial trouxe logo o clássico Benfica europeu com nervos, passes trocados como quem joga dominó às cegas e um Fenerbahçe atrevido, embalado pelo grito de Mourinho na linha lateral. O José parecia mais em palco do que no banco. Gritava, gesticulava, atirava olhares mortíferos, parecia um candidato às autárquicas em campanha, só lhe faltava um raminho na mão para apagar os “incêndios” que o Benfica lhe ia provocando na defesa.
Os minutos passavam, os nervos aumentavam. Vincic, árbitro da partida, depois de dois golos anulados ao Benfica, já tinha aquelas orelhas mais quentes do que uma sauna no Arábia Saudita. A meio da primeira parte os corações benfiquistas batiam mais rápido do que a inflação imobiliária. Até que, aos 35 minutos, aconteceu o momento mágico. Kerem Aktürkoğlu, o turco que trai a sua “pátria”, mostrou que não tinha atravessado a Europa para brincar. Recebeu, ajeitou e disparou. Golo! Não festejou porque sabe que em princípio, daqui a uma semana os futuros patrões vão-lhe descontar aquela brincadeira no prémio de assinatura.
O Estádio da Luz explodiu. Cerveja pelo ar, abraços a desconhecidos, cachecóis rodopiados. A cena foi tão épica que até o preço das rendas em Lisboa pareceram, por uns instantes, suportáveis. O turco tornou-se herói instantâneo. Ironia do destino: um jogador turco a eliminar um clube turco. Mourinho mordeu os lábios. A Luz rejubilou.
Até ao intervalo, foi um Benfica de contenção. Os turcos começavam a mostrar os dentes, Mourinho berrava, mas a Luz estava iluminada pelo golo que a manter-se a solidez defensiva valia praticamente o passaporte para a Liga dos Campeões.
Os adeptos, no intervalo, já se dividiam, uns diziam “este ano é que é”, outros murmuravam o inevitável “ainda vamos sofrer um bocado”. Os segundos, claro, tinham razão.
Se a primeira parte trouxe esperança, a segunda trouxe o inevitável sofrimento. O Fenerbahçe entrou como quem tenta salvar um namoro no último dia, com flores, promessas, lágrimas e uma garrafa de vinho, mas tudo sem sucesso, a defesa do Benfica anda em abstinência de golos sofridos.
O Benfica recuou linhas, estacionou o autocarro e até equacionou estacionar o metro e o elétrico, se fosse preciso. Era defender a sua área a todo o custo. Richard Rios corria mais do que funcionário público a sair a uma sexta às 17 horas. Otamendi fazia entradas duras, mas com aquele charme argentino que transforma falta em heroísmo. Arturkoglu, já em modo “veterano de muitas batalhas”, sacava truques que enganavam tempo e adversário.
Nas bancadas, o sofrimento era coletivo. A cada ataque turco, um benfiquista perdia três anos de vida. A cada defesa, ganhava um fio de esperança. Era um “Space Mountain” da Disneyland emocional, mas sem segurança.
Mourinho, à beira da linha, parecia em combustão. Quando lançou avançados, parecia mais desespero do que tática. O Fenerbahçe atacava muito, mas a bola parecia ter medo de entrar.
No meio disto tudo mais uma bola na trave. O Benfica não sofre golos, o Benfica neste momento parece uma daquelas discotecas no Algarve onde pobre não entra. Naquela baliza não há miséria.
O Benfica estava nesta segunda parte então encolhido, resistente até um ex jogador dar uma ajuda, Talisca.
O jogador brasileiro voltou a fazer os benfiquistas sorrirem ao se expulsar em 5 minutos por duplo amarelo.
O Benfica parecia aquela pessoa que chega ao fim do mês com 5 euros no bolso mas que chegam perfeitamente para fazer a festa e chegaram!
Quando o árbitro apitou, o Estádio da Luz explodiu em alegria. Estava feito. Benfica na fase de grupos da Champions.
Rui Costa foi às lágrimas mas de alegria, não por se apurar mas por ver a vitória nas eleições mais de perto.
Mourinho saiu de cena com cara de poucos amigos, provavelmente já a preparar a conferência de imprensa em que culparia tudo e todos, menos ele. O “Special One” é agora o “Aziado One” e em breve, corre o sério risco de não ser o treinador mais importante do distrito de Setúbal.
Em Lisboa, a festa foi imediata. Para muitos, este apuramento já vale como um título. Afinal, os milhões da Champions são oxigénio puro para o clube e ainda podem dar para mais umas prendas de última hora no mercado de verão.
O Benfica está na Liga dos Campeões e quanto ao futuro, nem o “Zandinga” adivinharia!
Viva o futebol