O Mjällby AIF está prestes a escrever umas das páginas mais lindas da história do futebol. O modesto clube de Hällevik, uma aldeia piscatória sueca de 800 habitantes, ali perto do Mar Báltico, prepara-se para se sagrar campeão sueco pela primeira vez, destronando o poderoso Malmo, que venceu quatro dos últimos cinco campeonatos, ou oito dos últimos 12 títulos na Suécia.
O tão desejado título poderá chegar já este fim de semana, se o Mjällby vencer o Elfsborg em casa e o Hammarby, 2.º na tabela, perder fora com o Gotemburgo. Nos 25 jogos já disputados, só o AIK foi capaz de derrotar o Mjällby.
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A equipa lidera com 60 pontos (18 vitórias e seis empates), mais 11 que o Hammarby, quando faltam cinco jogos para o fim. São 15 pontos em disputa.
O sucesso explica-se pela performance defensiva, com penas 17 golos sofridos em 25 jogos (defesa menos batida) e um ataque (45 golos marcados) que só é superado pelo Hammarby (49 golos).
O título será a cereja no topo do bolo de uma época inesquecível, confirmado pela histórica presença nas provas da UEFA em 2026/27, a primeira do Mjällby em 86 anos de história.
O plantel é formado por muitos jovens. Ao todo, são 19 jogadores suecos, dois finlandeses, dois nigerianos, um norueguês, um dinamarquês, um gambiano, um camaronês e um paquistanês. A média de idades dos 28 jogadores do plantel é de 22,6 anos.
O Mjällby viveu momentos conturbados que ameaçaram atirar o clube para a quarta divisão. Em 2016, por exemplo, esteve a um jogo de ser despromovido ao quarto escalão.
Em 2018 foi campeão terceira divisão sueca, o que lhe permitiu subir um escalão. No ano seguinte, novamente campeão, agora da 2.ª divisão, e subida à elite do futebol sueco em 2000. Nos 86 anos de história, apenas 11 foram passados na Primeira Divisão, sendo que o 5.º posto da época passada era, até agora, a melhor classificação de sempre.
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Os homens do sucesso
Jacob Lennartsson é uma das caras do sucesso do Mjällby. Jogou nos escalões de formação do clube, chegou mesmo à equipa principal. Em 2016 voltou ao clube para ser treinador da formação. Em 2021 assumiu o carto de diretor-geral do clube, depois de ter passado pelo departamento de comunicação e eventos.
Para se manter no Allsvenskan, a principal liga sueca, o clube teve de recorrer a jogadores emprestados por gigantes como o Malmo, o AIK e o Djugarden. Mas o ciclo de empréstimos não permitia o crescimento do clube.
E isso foi quebrado com a venda de dois jogadores que renderam quase três milhões de euros: Nicklas Rojkjaer para o Nordsjaellend da Dinamarca a meio da época passada por 1,7 milhões de euros, e Colin Rosler, 25 anos, vendido ao Malmo por 1,1 milhão de euros em 2024, um ano e meio depois de chegar ao clube a custo zero.
Gerir os parcos recursos e potenciar talento tem sido a base do sucesso, até porque, de outra forma, seria impossível competir com os clubes da capital.
O gigante Malmo consegue uns 80 milhões de euros de receita, contra os oito do Mjällby. O AIK de Estocolmo, por exemplo, só em bilhética fatura o que o Mjällby amealha de todas as suas fontes de rendimento.
Encontrar talento jovem exige paciência e estudo. O ‘scouting é baseado na estatística para encontrar jogadores que se adequam ao 3-5-3, o esquema tático utilizado há cinco anos: três centrais, dois alas, três médios e dois avançados.
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Se fora da quatro linhas o terreno é preparado por Jacob Lennartsson, no campo os méritos vão para o treinador Anders Torstensson, de 53 anos. Um homem que foi jogador da equipa em 1985 e esteve na direção e na equipa técnica de 2007 a 2013.
Mas um treinador que não queria ser. Deixou o futebol há dez anos, após uma primeira passagem pelo Mjällby, para ser diretor de uma escola.
Jacob Lennartsson conseguiu convence-lo a voltar para pegar na equipa, em 2021 quando o Mjällby estava no último lugar e a caminhar para nova despromoção. Evitou a queda para a segunda divisão e voltou a sair.
“Salvou-nos e queríamos que ele continuasse, mas disse que não. Não queria voltar a ser treinador”, recorda Jacob Lennartsson à RR.
Com o clube estável e após o AIK recrutar o treinador do Mjällby, Anders Torstensson voltou em definitivo, em 2023.
“Eu tinha acabado de chegar a esta função e lembro-me dessa reunião. Ele disse que não tinha a certeza se queria voltar porque consumia muito tempo, vivia uma vida mais calma e que não era um treinador muito tático, não tinha o típico perfil de treinador. Mas nós sabíamos que ele vencia os jogos e que era um grande líder. Convencemo-lo que era o sítio certo”, recordou o diretor-geral do clube, em declarações à Rádio Renascença.
Em 2024, o Mjällby contratou Karl Aksum, um norueguês com um doutoramento em perceção visual no futebol, mas sem qualquer experiência na modalidade para ser treinador-adjunto de Anders Torstensson. Os resultados foram imediatos.
“Quando as pessoas pensavam no Mjallby, pensavam em bolas longas, lançamentos. Sempre fomos fortes defensivamente, mas o novo adjunto [Aksum] trouxe grandes ideias ofensivas”, elogiou o médio Elliot Stroud, citado pela BBC.
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Para já está garantida a estreia em provas da UEFA. O estádio Strandvallen, com capacidade para perto de 7 mil espectadores, oito vezes a população da aldeia de Hällevik, será pequeno para o entusiasmo à volta da equipa.
As enchentes no pequeno Strandvallen deixaram de acontecer apenas nas visitas do Malmo. A população da província de Blekinge está entusiasmada com a caminhada da equipa, como mostram as assistências dos jogos em casa: média de cinco mil pessoas.
Quem lidera o clube desde 2016 é Magnus Emeus. O presidente elogiou a força da comunidade e a tradição como fundamentais na ascensão do Mjällby.
“Digo sempre que temos de ser melhores nas coisas gratuitas. Podemos ter um espírito de equipa melhor que o Real Madrid, prepararmo-nos para um jogo melhor que o Manchester United”, disse, citado pela Associated Press.
Se não for neste fim de semana, serão nas próximas o tão aguardado título do Mjällby, a melhor equipa na Suécia esta época.