Juan Ayuso concedeu uma extensa entrevista ao jornalista Daniel Benson onde abordou a sua tumultuosa passagem pela equipa UAE-Emirates.
O ciclista espanhol criticou em grande parte a estrutura da equipa, desde a forma como trataram a sua saída, a proposta de renovação falhada ou a falta de química no seio do grupo.
“Foram pequenos incidentes, sempre quando sabíamos que algo não estava bem. A cada corrida, quando voltava a casa, sentia que não havia química ou uma relação. Eram as pequenas coisas a cada corrida… Sempre que falava disso de forma breve com a direção, a resposta era sempre negativa. (…) E quando tudo se acumula, chegas a um ponto em que pensas ‘que se f…, estou aqui para desfrutar’. (…) Na UAE, por vezes tinha de lutar contra os meus colegas e isso nunca sabe bem. As coisas começam a acumular-se quando te focas no que acontece na tua equipa e não fora dela, com colegas de equipa que te querem bater… Foi uma coisa gradual, mais do que algo que tenha acontecido num só dia”, começou por dizer.
Ayuso esteve na mesma equipa de João Almeida na última Volta a Espanha, onde foi acusado de não trabalhar para o ciclista luso, considerado o chefe de fila.
O espanhol nega qualquer tipo de atrito, nem com o corredor português, nem com outro ciclista, apontando o dedo à estrutura da equipa, por esta não clarificar o papel de cada um.
“O problema não era com o Almeida. Eu nunca iria desafiar um colega de equipa. Para mim era mais uma questão do que acontecia, porque há coisas que acontecem em todas as equipas e é assim o desporto. Mas do ponto de vista da gestão, nunca foi clara a mensagem e qual o papel de cada corredor. Se erros eram cometidos, nunca se falou disso. Apenas me custou energia, mais do que o ato em si. Era mais uma questão da forma como a gestão da equipa geria as coisas. Para ser sincero, não havia grandes problemas com os colegas de equipa. O problema era apenas com a gestão da equipa”, sublinhou.
Para além do que se passava em cima da bicicleta, Juan Ayuso deixou ainda palavras duras para a postura da UAE-Emirates durante as negociações da sua renovação de contrato.
“Em janeiro, tive uma proposta para renovar contrato por mais dois anos, até 2030. Durante essas negociações, a minha preocupação não foi o dinheiro, mas antes a famosa cláusula de 100 milhões de euros. Disse-lhes que podia renovar contrato, mas apenas se houvesse uma cláusula que me permitisse sair. Não aceitei e, a partir daquele momento, a direção da equipa ficou muito agressiva comigo, ao ponto de me dizerem que se não assinasse a renovação teríamos de ver qual o meu calendário a seguir. Foi um dos grandes pontos de viragem, para lá do desportivo, que era sempre complexo, e foi aí que disse ‘já chega’. Não digo que seja injusto as pessoas pensarem da forma que pensam, pois todos têm direito à sua opinião, mas a imagem que fazem de mim é muito diferente do que sou”, clarificou.
“O que me incomoda mais é que a equipa, ao invés de ajudar, tentou gerar ainda mais sangue e ficar bem na fotografia no final. Eu era visto como o vilão do filme, por isso não posso criticar quem deu opinião, porque é essa a versão que têm de mim. Não tenho problemas com isso”, concluiu.