Havia muito emoção, muitos nervos nesse duelo decisivo de 15 de novembro de 1995. A seleção portuguesa não marcava presença numa grande competição internacional desde o México 1986, certame de má memória com o chamado ‘Caso Saltillo’ que muita tinta fez correr nos jornais e até em livros, na rocambolesca participação da equipa das quinas no Campeonato do Mundo.
Daí até 1996, quatro qualificações goradas, com aliás era hábito, tanto que os adeptos em Portugal estavam habituadíssimos a torcer por outras seleções nas grandes competições: Euro 1988 (Alemanha), Mundial 1990 (Itália), Euro 1992 (Suécia) e Mundial 1994 (Estados Unidos da América).
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Porém a ‘Geração de Ouro’ e o trabalho de Carlos Queiroz nas seleções jovens, que tantos frutos trouxeram, com os triunfos nos Mundiais juniores em Riade em 1989 e dois anos mais tarde em Lisboa, voltou a colocar Portugal ‘na luta’, isto muito anos depois do brilharete dos ‘magriços’ no Mundial de 1966 e das meias-finais no Europeu de 1984.
Porém, com Queiroz ao comando serviço da seleção A, a desilusão voltou a imperar, com Portugal a ver novamente o Mundial de 1994 ‘por um canudo’ com a derrota frente à Itália no Giuseppe Meazza, já com a geração de Vítor Baía, Fernando Couto, Jorge Costa, Rui Costa, João Vieira Pinto, entre outros e ainda com o mágico Paulo Futre.
No final do jogo em Itália, o selecionador nacional deixou um aviso: que se varresse ‘o lixo’ da Federação. Mudou o ciclo e entrou António Oliveira como selecionador da equipa de todos nós. O Euro 1996 em Inglaterra passava a contar com 16 equipas, ao contrário do torneio de ‘elite’ que tinham sido as competições anteriores, onde apenas oito seleções se qualificavam. E também por isso, as expetativas também eram outras.
Qualificação a arrancar com o pé direito, a querer afastar os fantasmas do passado
A qualificação começou da melhor forma com uma vitória fora de portas (1-2) frente à Irlanda do Norte, quando habitualmente era ‘da praxe’ Portugal falhar contra este tipo de seleções. Seguiu-se novo triunfo fora portas contra a Letónia (1-3) e uma vitória caseira frente ao Áustria (1-0). No quarto jogo, Portugal atingiu, até então, a maior goleada de sempre numa fase de qualificação: 8-0 contra à frágil formação do Liechtenstein. Esse recorde só haveria de ser batido com um 9-0 frente ao Luxemburgo, em setembro de 2023.
Até que surgiu o primeiro desaire: em terras irlandeses – onde esta quinta-feira, Portugal irá tentar garantir a qualificação para o Mundial – Portugal foi derrotado por 1-0, com um tento de Steve Staunton.
Restava saber de que forma os comandados de António Oliveira iriam reagir ao primeiro desaire. Os traumas do passado voltariam para assombrar a equipa lusa? Portugal não poderia ter reagido da melhor forma. Venceu a Letónia por 3-2, seguindo-se nova vitória por gordos números frente a Liechtenstein (7-0).
Só que a seleção nacional marcou passo nos dois jogos seguintes, o que poderia complicar as contas – frente à Irlanda do Norte (em casa 1-1) e Áustria fora de portas (1-1). O resultado permitiu à República da Irlanda aproximar-se.
Chegado o último jogo, Portugal dependia apenas de si próprio para garantir a qualificação direta e não das ‘costumeiras’ contas.
Dia de muita chuva em Lisboa e com Rui Costa a desbloquear tudo
Chegámos, pois ao 15 de novembro de 1995. Noite de muitas chuva em Lisboa num jogo que Portugal teria que resolver a seu favor frente à equipa que era a ‘pedra do sapato’ do grupo.
Num encontro de um só sentido, a formação de António Oliveira começou por demonstrar dificuldades em traduzir o domínio em oportunidades de golos. Isto até que Rui Costa, ao 60 minuto, desbloqueou tudo. Numa triangulação entre Paulo Sousa e João Vieira Pinto, o médio conseguiu ver o adiantamento de Alan Kelly e, com um chapéu do meio da rua, num pontapé muito bem medido e que ainda beijou a barra, colocou Portugal na frente do marcador, para euforia total no estádio da Luz.
Ao minuto 74′, Hélder Cristóvão, num cabeceamento portentoso, fazia o 2-0. Vítor Vasques, na altura presidente da Federação Portuguesa de Futebol, era entrevistado na bancada pelo jornalista Sousa Martins. “Engenheiro já está no papo? ‘Só no fim, no fim'”, respondeu, com cautela o dirigente.
Mas a qualificação não haveria de fugir e Jorge Cadete viria a fechar o marcador à beira do fim: 30 anos depois de Inglaterra 1966, uma década após o México 1986.
Estava confirmada a presença no segundo Campeonato da Europa da história da seleção nacional e a primeira grande competição para a ‘Geração de Ouro’. A República da Irlanda seguiu para o playoff, mas ficou pelo caminho ao ser derrotada pela seleção neerlandesa.
O Euro 1996 constituiu um marco muito importante, naquele que foi o início da consolidação do futebol português ao nível de seleções. Daí para cá, Portugal só falhou uma grande competição: o Campeonato do Mundo de 1998.
Agora, volvidos 30 anos, a Seleção nacional, desta feita com Roberto Martínez ao leme, poderá selar nova qualificação – desta feita para um Mundial – novamente diante dos irlandeses.























