A calculadora e o futebol português. Uma relação de longa data, de amor-ódio. Uma inevitabilidade sempre que o futebol nacional mostra as garras na Europa, quer seja com seleções (cada vez menos), quer seja com clubes (cada vez mais).
Essa relação com os números, contas de somar e subtrair, hipotéticas vitórias e os ‘ses’ que lhes acompanham, chegaram numa fase precoce ao Benfica europeu, versão 2025/26.
E não é para menos: três derrotas em outros tantos jogos na Liga dos Campeões faria soar o alarme em qualquer instituição. Mas olhando para o calendário do Benfica e o pedigree dos adversários, mais do que alarme, é preciso mandar bater forte o sino da Igreja de Santo António, em Santa Maria Maior, Lisboa, para despertar o Benfica para o que aí vem, depois dos 3-0 sofrido diante do Newcastle.
FOTOS: As melhores imagens do Newcastle-Benfica
Será Ajax e Juventus fora de portas e Real Madrid, Bayer Leverkusen e Nápoles na Luz. 15 pontos que Mourinho diz nem precisar. Bastam 10 ou 11, garante o técnico do Benfica.
Mas, para lá chegar, é preciso elevar o nível. Algo que o Benfica tarda em afirmar, mesmo perante adversários de menor nomeada. Se na primeira saída, ainda deu luta ao Chelsea (0-1), o segundo desaire deixou a nu as fragilidades de uma equipa que sofre quando sobe as linhas e precisa de correr atrás do resultado.
Em St. James Park, o Benfica deu-se mal com a intensidade e pressão dos ingleses, e mostrou-se incapaz de ligar o jogo até ao ataque. Lukebakio ia mostrando, através da sua velocidade e capacidade de remate, que era possível, mas a manta não esticava.
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O Newcastle ameaçou na bola parada, na bola corrida, recuperou o esférico em terrenos adiantados e feriu o Benfica em três transições, expondo as dificuldades da equipa em defender bem quando tem de assumir o jogo. A lentidão da defesa, os maus posicionamentos e os espaços deixados foram bem aproveitados pelos Geordies que só não conseguiram uma golada com outros números graças a Trubin.
E a confiança de Mourinho nos jogadores parece não ser tão grande assim. Fez só uma mexida (Ivanovic no lugar do lesionado Dedic, na lateral direita), quando tinha no banco vários miúdos como João Veloso, João Rego, Ivan Lima, Henrique Araújo, Obrador, Joshua Wynder Diogo Prioste, além de nomes mais consagrados como Andreas Schjelderup e Leandro Barreiro.
Com a derrota, o Benfica somou o 10.º jogo seguido sem vencer uma equipa inglesa. Foi a 24.ª derrota dos Encarnados em 43 partidas diante dos ingleses em jogos da UEFA, a 14.ª em 21 jogos em Inglaterra, onde só venceu por quatro vezes, a última em 2013/14 (3-1 ao Tottenham).
Se o Ajax (joga fora com o Chelsea) e o Athletic Bilbao (recebe o Qarabag) pontuarem esta quarta-feira, o Benfica passará a ser a única equipa da Champions 2025/26 ainda sem qualquer ponto.
A figura: Anthony Gordon
O extremo esquerdo do Newcastle esteve em dois dos três golos, além de ser protagonista dos principais lances de perigo da sua equipa. Anthony Gordon deu ‘água pela barba’ a Dedic, na velocidade e no drible, como ficou patente na forma como ganhou as costas ao lateral direito do Benfica para fazer o 1-0. A forma como vem da esquerda para dentro em combinações com Woltemade para isolar Barnes para o 3-0 é de craque. Já leva quatro golos marcados em três jogos da Champions e está a dois de igualar o recorde do mítico Alan Shearer nos Magpies.
Outros destaques:
Quando Eddie Howe sentiu que o jogo estava a fugir ao controle da sua equipa, foi ao banco buscar recursos de peso para matar as aspirações Encarnadas. Harvey Barnes entrou para marcar dois golos, mostrando velocidade e capacidade de execução. No primeiro, tem de agradecer à Nick Pope pela assistência com as mãos, desde a sua área.
Num jogo onde os Encarnados acabaram goleados, o melhor em campo do lado português ser o guarda-redes, diz muito do que foi a exibição do Benfica. Trubin manteve a equipa em jogo com boas intervenções no primeiro tempo, continuou a brilhar na segunda parte para evitar que a goleada assumisse números mais escandalosos.
Além de Trubin, Dodi Lukebakio foi dos poucos do Benfica que se salvou na noite de horrores em St. James Park. Ofensivamente, quase tudo o que o Benfica criou, principalmente no primeiro tempo, saiu dos seus pés, incluindo uma bola nos ferros e duas grandes defesas de Nick Pope.
Ter um guarda-redes a fazer uma assistência num jogo de Champions é sempre algo de destaque. Mas a forma como Nick Pope meteu a bola com as mãos, desde a sua área, até ao meio-campo do Benfica, onde Harvey Barnes arrancou para o 2-0… não se admira que quase todos os jogadores tenham ido festejar com o guardião dos Magpies em vez do marcador do golo. Na baliza, fez a sua parte, como as duas defesas a remates de Lukebakio que levavam o caminho da baliza. De resto, os únicos remates do Benfica à baliza do Newcastle em todo o jogo.
Momento do jogo: Mãos de Pope, pés de Barnes
Num momento em que o Benfica tentava reagir à forte entrada do Newcastle no segundo tempo, Eddie Howe tinha colocado Harvey Barnes em campo para aproveitar o espaço que o Benfica ia deixar, ao subir no terreno. Não esperava era que fosse o seu guarda-redes, Nick Pope, a assistir o médio ofensivo, desde a sua área, com as mãos, para uma arrancada que terminou no 2-0. Que bola!
Reações:
“Não precisamos de fazer 15 pontos”. Mourinho faz as contas e lamenta golo “que não se pode sofrer”