O Sporting conseguiu, ao fim de 72 anos depois, sagrar-se bicampeão nacional. A caminhada acabou por ser bem mais complicada do que se chegou a pensar, mas a festa chegou mesmo à última jornada, com o triunfo sobre o V.Guimarães em Alvalade.
De A a Z, olhamos para os momentos, números e figuras determinantes nesta suada, mas bem-sucedida caminhada dos verdes e brancos rumo à conquista da I Liga 24/25.
Campeão de A a Z
A: Amorim – Foi, inevitavelmente, um dos momentos – se não o momento – que marcou a época. Ruben Amorim tinha prometido ficar para dar aos sportinguistas o ‘bi’, começou a época e tudo parecia comer sobre rodas. Até que, de repente, tudo mudou. Amorim não resistiu ao assédio do Manchester United e rumou a Old Trafford. O Sporting tremeu, mas não caiu. E ninguém tem dúvidas de que, ainda assim, Amorim foi determinante para este título, numa importância que vai bem para além dos ‘números’ que os leões apresentavam até à sua saída.
B: Borges – Apesar desses ‘números’ de Amorim, quem levou o leão ao título foi Rui Borges. O treinador natural de Mirandela chegou a Alvalade depois do conturbado mês sob as ordens de João Pereira, e a estreia foi logo com uma vitória sobre o Benfica. Teve momentos bons e momentos menos bons, em que alguns terão duvidado da sua capacidade de levar mesmo o Sporting ao título. Mas conseguiu e, claro, grande parte do mérito acaba por ser seu.
C: Champions – Foi do céu ao inferno a campanha europeia do Sporting na Champions esta temporada. Tal como no campeonato, também na Liga dos Campeões tudo corria bem. Na memória de todos fica a vitória sobre o Manchester City, por 4-1, em Alvalade, numa altura em que já era certo o adeus de Amorim. Depois, contudo, a história foi outra: os leões não ganharam mais nenhum jogo, o apuramento para a fase seguinte, que parecia certo foi alcançado no limite e logo a seguir veio a eliminação com o Dortmund.3
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D: Derrotas – Na I Liga só foram duas, e ambas sob as ordens de João Pereira. Mas fizeram o leão tremer, e de que maneira, pela forma e pelo momento em que ocorreram. Surgiram, ambas, nos dois primeiros jogos para o campeonato após a saída de Amorim: em casa, frente ao Santa Clara, e logo a seguir, fora, com o Moreirense. Mas foram só essas. Rui Borges não perdeu nenhum jogo para o campeonato e a verdade é que os leões acabaram a I Liga 24/25 com as mesmas duas derrotas que sofreram na mais tranquila caminhada para o título em 23/24.
E: Empates – O Sporting só sofreu duas derrotas, tantas como há uma época, mas houve 7 ‘x’ no totobola dos leões na I Liga que podiam ter custado caro. Dois desses empates foram em casa, frente a Arouca e SC Braga, cinco foram fora de portas, em Barcelos, Guimarães, Vila das Aves, Estádio do Dragão e Estádio da Luz. E em cinco desses empates os leões deixaram fugir vantagens no marcador, em todos eles já com Rui Borges ao leme.
F: Fortaleza menos segura – Tinha sido um dos pontos fortes do Sporting 23/24. E da era Amorim. Na época passada o Sporting somou 17 vitórias em 17 jogos em casa na I Liga. Não perdia em Alvalade para a I Liga desde fevereiro de 2023, mas viu-se derrotado no primeiro jogo em Alvalade para o campeonato após a saída de Amorim. Foram, ao todo, sete os pontos perdidos em Alvalade, diante de Santa Clara, Arouca e SC Braga.
G: Gyokeres – ‘G’ de ‘Golo’ e ‘G’ de Gyokeres. No fundo, são sinónimos. Depois de uma primeira temporada de sonho, Gyokeres fez ainda melhor na segunda. Quem ainda duvidada das suas capacidades, viu as suas dúvidas dissipadas. Brilhou na Champions e no campeonato fez ainda melhor do que em 23/24: foram 39 golos e 8 assistências, com dois ‘pokers’ e três ‘hat-tricks’ pelo meio. Impressionante!
H: Hjulmand – Assumiu a braçadeira de capitão após a algo inesperada saída de Seba Coates, abraçou o cargo com mestria e acabou erguer o tão desejado título. A capacidade de liderança que já se notava na temporada passada foi ainda mais notória e a sua importância foi notória e ficou bem patente nos jogos em que não alinhou, seja por lesão, seja por castigo. Um exemplo, as dificuldades sentidas na receção ao Gil Vicente, na antepenúltima jornada, até à sua entrada em campo, quando Rui Borges optou por poupar o dinamarquês, por este estar ‘tapado’ de cartões amarelos.
J: João Pereira – Coube-lhe a ingrata missão de pegar na equipa após a saída de Ruben Amorim. Não seria fácil para ninguém, mas João Pereira não correspondeu. ‘Erro de casting’ ou apenas infelicidade no ‘timing’, naturalmente complicado fosse para quem fosse, a verdade é que foi no mês em que João Pereira esteve ao leme da equipa que o Sporting viveu a sua fase mais difícil da época, ao ponto de muitos chegarem a achar que a conquista do bicampeonato ia mesmo ser falhada.
L: Lesões – Foi um dos grandes problemas da temporada, e que ameaçou perigar as aspirações: a praga de lesões que, progressivamente, foi afetando a equipa principal do Sporting. Começou com a grave lesão de Nuno Santos, à jornada, que o afastou do resto da época. Depois foi a lesão de Pedro Gonçalves, que o tirou dos relvados por uma volta inteira. E, de repente, a situação começou a parecer uma autêntica epidemia. A dado momento, chegaram a ser quase dez os jogadores lesionados em simultâneo, obrigando primeiro João Pereira e depois Rui Borges a muitas opções de recurso. Mas o leão resistiu…
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M: Médios – Onde essa onda de lseões terá sido mais sentida terá sido no meio-campo. A escassez de médios de raiz no plantel já era uma lacuna apontada por alguns no arranque da temporada. Mas, com Daniel Bragança a lesionar-se com gravidade, Morita a lesionar-se com frequência, Hjulmand também de fora a dada altura e Pedro Gonçalves, que também era alternativa, igualmente afastado dos relvados. Foi preciso encontrar soluções. A primeira, o jovem João Simões, que até estava a afirmar-se, acabou, também ele, por se lesionar. E mais soluções foi preciso procurar, com Debast, por exemplo, contratado como central, a acabar a temporada a jogar a médio, umas vezes na posição ‘6’, outras até na posição ‘8’.
N: Nulos – Foi só um. Só por uma vez esta temporada na I Liga os jogos dos leões terminaram sem golos: no empate 0-0 em Barcelos, à 15.ª jornada, no último jogo sob as ordens de João Pereira. E o outro único jogo em que o Sporting não marcou para o campeonato também foi com João Pereira ao leme (na derrota 0-1 com o Santa Clara). Ou seja, quer com Ruben Amorim, quer com Rui Borges os leões marcaram sempre pelo menos um golo em jogos do campeonato.
O: Onze – Foram 11 as vitórias consecutivas do Sporting nas 11 primeiras jornadas da I Liga 24/25, igualando assim o recorde do clube (fixado em 90/91). Foram, todas elas, somadas até à saída de Ruben Amorim, numa altura em que os leões pareciam caminhar para uma tranquila revalidação do título. Mas, depois, veio a primeira derrota, no primeiro jogo do campeonato sob o comando de João Pereira, na receção ao Santa Clara.
P: Pote – A ausência de Pedro Gonçalves durante 17 jogos da I Liga foi uma das grandes condicionantes da temporada verde e branca. Pote estava a realizar um excelente arranque de época, com seis golos e cinco assistências em 12 jogos no conjunto de todas a competições. Voltou em abril, a tempo de ajudar a equipa nas derradeiras rondas. E de marcar o golo que abriu caminho à vitória na última jornada.
Q: Quenda – Uma das revelações da temporada. Ao ponto de levar o Chelsea a perder a cabeça para garantir, desde já, a sua contratação, ainda que deixando-o mais uma época em Alvalade. O miúdo estreou-se – e logo com um golo – na Supertaça, frente ao FC Porto, ainda com 17 anos. Foi titular nos oito primeiros jogos da época. Alinhou em todos os 34 jogos da I Liga, em 26 dos quais alinhando de início.
R: Rui Silva – Chegou no mercado de transferências de Inverno (foi um dos dois reforços do Sporting em janeiro) para conferir à baliza leonina a segurança que nem Israel, nem o recém-chegado Kovacevic (que entretanto foi cedido) conferiam. E, mesmo sem brilhar por aí além, conseguiu oferecer maior confiança à equipa, com algumas defesas importantes. Sofreu 13 golos em 17 jogos na I Liga.
S: Susto – Foram alguns os sustos do Sporting ao longo da época. Mas o maior de todos terá ocorrido à 32.ª jornada. Impedido de escorregar na receção ao Gil Vicente para poder ir à Luz na ronda seguinte com o conforto de o empate lhe ser favorável, o Sporting viu-se em desvantagem durante largos minutos na receção ao conjunto de Barcelos. A ansiedade era palpável entre jogadores e adeptos . Mas, à entrada para os dez minutos finais, Maxi Araújo empatou e, aos 90+2′, Eduardo Quaresma fez o 2-1, levando Alvalade à loucura. Mas o susto foi grande…
T: Trincão – Os números de Francisco Trincão dizem muito sobre a sua importância nesta conquista do Sporting: foram Para a I Liga foram 9 golos e 14 assistências, sendo mesmo o ‘rei’ do campeonato nesse capítulo. Numa época com tantas lesões para os lados de Alvalade, Trincão resistiu estoicamente, mesmo que o cansaço físico fosse, em certos momentos, notório. Foi titular em todos os 34 jogos da I Liga e ninguém entre os verdes e brancos jogou mais minutos.
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U: Última jornada – Foi sofrer até ao fim. Se, na época passada, o título ficou resolvido um pouco mais cedo, desta feita o título só chegou na última jornada. Em igualdade pontual com o eterno rival Benfica, os leões só dependiam de si e não vacilaram.
V: Varandas – Não foi uma temporada fácil para Frederico Varandas. A saída de Amorim alterou por completo os planos para a temporada. A aposta em João Pereira, apresentado com pompa e circunstância e com grandes, não resultou e a contestação ao presidente dos leões foi crescendo, até pela ausência de declarações em momentos mais complicados, como a onda de lesões. Mas a aposta seguinte, em Rui Borges, acabou por, de certa forma, ‘salvar a pele’ de Varandas.
Xadrez tático: Depois de ter começado a temporada com Ruben Amorim fiel ao seu sistema, em 3-4-3, ao qual João Pereira deu continuidade, com algumas nuances, Rui Borges começou por apostar num 4-3-3, com o qual a equipa não parecia carburar como antes. E Rui Borges soube ‘dar o braço a torcer’. Voltou a um 3-4-3 muito semelhante àquele que Amorim usava, permitindo a Gyokeres atuar da forma que mais gosta, e os leões voltaram a ganhar consistência.
Z: Zeno Debast – Foi um dos reforços que chegaram a Alvalade no verão passado. Chegou como central e com as credenciais de, aos 20 anos, ser já presença habitual na sempre poderosa seleção da Bélgica, mas uma estreia menos conseguida na Supertaça levantou dúvidas sobre a sua qualidade. Fez as pazes com os adeptos com um golaço na Champions e, aos poucos, foi ganhando preponderância. Sobretudo a partir do momento em que, ‘vítima das circunstâncias’, passou a ser mais um médio do que um central.