Carolina Correia é vista como uma das jogadoras mais promissoras da nova geração no futebol feminino português. Aos 23 anos, a defesa central atravessa a melhor fase da sua carreira com destaque para a conquista da Taça de Portugal pelo Torreense e a estreia nas convocadas da Seleção A de Portugal. Tudo corre de feição para a capitã da formação de Torres Vedras, que se tem afirmado como uma líder dentro e fora de campo, fazendo prever um futuro risonho e com vista a voos mais altos.
Em entrevista ao SAPO Desporto, a jovem jogadora falou sobre a vitória inédita da prova-rainha na história do Torreense, bem como a sensação de ter dado o ‘salto’ para a equipa das ‘crescidas’ da seleção das quinas. Pelo meio, a defesa central falou sobre a afirmação da equipa de Torres Vedras no futebol feminino e apontou a receita para o desenvolvimento e maior competitividade no campeonato nacional.
A atleta, que descobriu o futsal antes de se apaixonar pelo futebol, recordou a passagem pelo Benfica e não escondeu a importância de ter passado pelas águias. Hoje representa o Torreense, onde é vista como uma ‘comandante’ e veste a braçadeira de capitã, liderando a quarta defesa do campeonato nacional que menos golos sofreu esta temporada.
Sem rejeitar o futuro e os voos altos que se preveem, Carolina Correia mantém o foco no presente e no ano de contrato que resta com o Torreense, não escondendo que o estrangeiro é o sonho e que as ligas mais competitivas são uma necessidade.
“Estes últimos dias têm sido uma autêntica montanha-russa de emoções!”
SAPO Desporto: Como é que têm sido os últimos dias com a conquista da Taça de Portugal e a chamada à Seleção A?
Carolina Correia: “A conquista da Taça de Portugal foi um momento de êxtase, a concretização de um sonho que partilhamos enquanto equipa. E receber a chamada para a Seleção A pela primeira vez… é indescritível! É como se todo o esforço e dedicação desta época tivessem culminado nestas duas grandes alegrias.”
SAPO Desporto: Relativamente à conquista inédita no Jamor, qual é a sensação de levantar a Taça perante todos os adeptos que marcaram presença na final?
Carolina Correia: “Levantar aquela taça no Jamor, perante os nossos adeptos que fizeram questão de marcar presença e nos apoiaram incondicionalmente, foi uma sensação incrível e absolutamente inédita para o Torreense. A energia que vinha das bancadas era contagiante, um misto de orgulho e gratidão que me arrepiou por completo. Ver a alegria nos rostos dos nossos adeptos tornou aquele momento ainda mais especial e ficará para sempre gravado na minha memória.”
SAPO Desporto: Antes do apito inicial, houve mais nervosismo ou mais vontade de viver a experiência?
Carolina Correia: “Confesso que, à medida que o apito final se aproximava, a ansiedade era notória. No entanto, essa ansiedade nunca toldou a nossa enorme vontade de viver cada segundo daquela experiência única. Havia uma crença profunda na nossa capacidade e um desejo imenso de fazer história. O nervosismo existia, claro, mas era amplamente superado pela determinação de lutar até ao último instante.”
SAPO Desporto: O Torreense foi empatando nos minutos finais e retirando esperança ao Benfica. Foi sentindo que o contexto do jogo e a forma como tudo se ia desenrolando fazia prever que iam conseguir a conquista inédita?
“A evolução do Torreense é fruto de um trabalho árduo e consistente de toda a estrutura do clube, desde a equipa técnica às jogadoras”
Carolina Correia: “Sim, senti que o contexto do jogo e a forma como se desenrolou nos davam um acreditar maior na vitória. O facto de termos conseguido manter a concentração e a organização defensiva, mesmo com o Benfica a pressionar, e depois sermos eficazes nos momentos cruciais, transmitia uma força coletiva muito grande. A forma como fomos resistindo e, nos últimos minutos, voltámos a igualar, retirando a esperança ao Benfica, alimentou em nós uma convicção cada vez maior de que o dia era nosso. Havia uma energia positiva na equipa de que iríamos conseguir algo inédito.”
SAPO Desporto: Quais considera que são as maiores valências do Torreense dentro de campo?
Carolina Correia: “Considero que as maiores valências do Torreense dentro de campo são a nossa forte união e espírito de equipa. Somos um grupo muito coeso, que trabalha arduamente em conjunto, tanto na defesa como no ataque. A nossa organização tática e a disciplina em cumprir o plano de jogo são também pontos fortes. Além disso, somos jogadoras com muita garra e determinação, que nunca desistem de lutar por cada bola. Acredito que a nossa humildade e a nossa capacidade de surpreender o adversário são também fatores importantes.”
Afirmação do Torreense no futebol feminino e formas de melhorar a modalidade em Portugal
SAPO Desporto: Na temporada passada, o Torreense terminou o campeonato no 8.º lugar. Este ano, terminou a Liga BPI em 4.º lugar, a um ponto do SC Braga, e conquistou a Taça de Portugal. A evolução é notória e a equipa tem tudo para em 2025/26 voltar a surpreender. Quais considera que são principais razões para o desenvolvimento do clube e a afirmação no futebol feminino?
Carolina Correia: “A evolução do Torreense é fruto de um trabalho árduo e consistente de toda a estrutura do clube, desde a equipa técnica às jogadoras. Acredito que as principais chaves para o desenvolvimento do clube e a afirmação do futebol feminino passam por continuar a investir na formação de jovens talentos, melhorar as condições de treino e de jogo, e apostar numa comunicação eficaz que atraia mais adeptos e visibilidade para a modalidade. É fundamental também que o clube continue a acreditar no potencial da equipa feminina e a dar-nos as condições para crescer e competir ao mais alto nível.”
“No Benfica, a pressão para vencer é constante e a estrutura é muito grande. No Torreense, encontrei um ambiente mais familiar”
SAPO Desporto: Acredita que é importante que outros clubes apostem nas equipas femininas para que a Liga BPI seja mais competitiva, de forma a comprometer os habituais favoritos?
Carolina Correia: “Acredito firmemente que é crucial que outros clubes apostem nas suas equipas femininas para elevar o nível da Liga BPI e torná-la mais competitiva. Uma liga mais equilibrada e com mais equipas de qualidade só beneficia o futebol feminino em Portugal, tornando os jogos mais emocionantes e atraindo mais interesse do público e dos media. Isso obriga os “habituais favoritos” a elevarem ainda mais o seu nível, o que é positivo para o desenvolvimento geral da modalidade.”
SAPO Desporto: O que considera que falta ao futebol feminino em Portugal para que a liga BPI possa ser de renome?
Carolina Correia: “Penso que falta, talvez, um maior investimento estrutural e uma maior visibilidade para o futebol feminino em Portugal. É importante que haja mais jogos transmitidos, mais notícias e reportagens sobre a modalidade, para que o público possa conhecer as jogadoras, as equipas e a qualidade do nosso campeonato. Um maior apoio financeiro aos clubes também permitiria aos clubes terem melhores infraestruturas e condições de treino e a contratação de jogadoras de maior nível, o que, consequentemente, aumentaria a competitividade da Liga BPI.”
SAPO Desporto: Representou o Benfica antes de chegar ao Torreense, quais as maiores diferenças que sentiu com a mudança de emblema?
Carolina Correia: “Representar o Benfica foi uma parte muito importante da minha formação e da minha carreira. A maior mudança que senti ao chegar ao Torreense foi talvez a dinâmica e a cultura do clube. No Benfica, a pressão para vencer é constante e a estrutura é muito grande. No Torreense, encontrei um ambiente mais familiar, mas com uma ambição enorme de crescer e de provar o nosso valor. Senti que tive mais espaço para assumir responsabilidades e para liderar, o que foi muito importante para o meu desenvolvimento como jogadora e como capitã.”
“Estava em casa com umas amigas e a emoção foi tão grande que, no primeiro instante, nem consegui acreditar”
SAPO Desporto: Como é que se caracteriza a nível de jogo e à sua postura no balneário com o restante plantel?
Carolina Correia: “A nível de jogo, considero-me uma central aguerrida, com boa capacidade de leitura de jogo e forte no desarme. Gosto de sair a jogar com a bola controlada e de contribuir para a construção ofensiva da equipa. Quanto à postura no balneário, procuro ser uma pessoa positiva, que motiva e apoia as minhas colegas. Valorizo muito o espírito de equipa e a comunicação aberta, e tento sempre transmitir confiança a todas.”
O sonho de representar a Seleção A de Portugal
SAPO Desporto: A Carolina tem tido um maior destaque ao serviço do Torreense e, aos 23 anos, está a viver a melhor fase da sua carreira com a temporada bem conseguida no Torreense e a chamada para a seleção A. Estava à espera que a convocatória surgisse nesta altura?
Carolina Correia: “Sentia que estava a fazer uma época consistente e que o meu desempenho no Torreense estava a ser notado. Claro que a conquista da Taça de Portugal deu ainda mais visibilidade ao nosso trabalho e ao meu jogo. No entanto, a convocatória para a Seleção A foi uma surpresa maravilhosa e um reconhecimento do meu trabalho e dedicação. Estava esperançosa, mas sabia que o nível da seleção é altíssimo.”
SAPO Desporto: Onde é que estava e como é que reagiu à convocatória?
Carolina Correia: “Estava em casa com umas amigas e emoção foi tão grande que, no primeiro instante, nem consegui acreditar. Até tive que puxar de novo para trás o direto para ouvir de novo a convocatória . Foi um misto de alegria e orgulho.”
SAPO Desporto: A quem ligou primeiro para contar a novidade?
Carolina Correia: “Liguei primeiro aos meus pais, claro. São os meus principais apoios no futebol e na vida.”
“Tenho ambição de jogar no estrangeiro um dia”
SAPO Desporto: O que espera destes dois jogos contra a Inglaterra e a Bélgica? Conta ter minutos de jogo?
Carolina Correia: “Espero que estes dois jogos contra a Inglaterra e a Bélgica sejam uma oportunidade para aprender e evoluir ao lado de jogadoras de grande qualidade. Vou dar o meu máximo nos treinos e, claro, sonho em ter a oportunidade de somar os meus primeiros minutos com a camisola da seleção A. Sei que a concorrência é grande, mas estou preparada para trabalhar e aproveitar cada oportunidade que surgir.”
Planos e objetivos para o futuro
SAPO Desporto: O futuro a curto prazo passa por continuar no Torreense?
Carolina Correia: “Tenho mais um ano de contrato e neste momento, o meu foco está em aproveitar esta convocatória para a seleção e em terminar a época da melhor forma possível. Estou muito feliz no Torreense e grata pela oportunidade que me deram.”
SAPO Desporto: Tem a ambição de jogar no estrangeiro?
Carolina Correia: “Sim, claro que tenho ambição de jogar no estrangeiro um dia. Acredito que seria uma experiência enriquecedora a nível profissional e pessoal, e seria uma oportunidade de jogar em ligas mais competitivas. No entanto, neste momento, estou focada no presente e em dar o meu melhor pelo Torreense e pela seleção. O futuro, logo se verá!”
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