Se pensa que o futebol e a política não se misturam, engana-se. O ‘El Clásico’ entre o Real Madrid e o Barcelona é a prova disso mesmo, em que a rivalidade histórica anda de mãos dadas com as batalhas políticas fora das quatro linhas.
Este domingo (15:15), merengues e blaugranas disputam o primeiro clássico da época, a contar para a 10.ª jornada da LaLiga. Santiago Bernabéu será o palco de um jogo que pode fazer mexidas na tabela classificativa, até porque os rivais estão separados por dois pontos.
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É o Real Madrid que leva vantagem e poderá beneficiar do fator casa, à procura de se distanciar na liderança. No lado oposto está o Barcelona que não quer deixar fugir o principal antagonista, ainda que o campeonato se encontre numa fase inicial.
Os tempos áureos já lá vão, mas um ‘El Clásico’ é sempre um ‘El Clásico’. Desde o começo de toda a rivalidade por razões políticas, passando pelas polémicas com jogadores até aos duelos entre Ronaldo e Messi, há tanta história em cada Real Madrid-Barcelona. Mas antes, o melhor é prever de que forma é que as duas equipas se vão apresentar esta tarde.
Real Madrid mais vitorioso, Barcelona com mais tropeços
Para esta partida, o Real Madrid está num bom momento de forma com quatro vitórias consecutivas, incluindo Champions e LaLiga. Desde o começo da temporada, o Real Madrid apenas sofreu uma derrota, frente ao Atlético de Madrid por 5-2.
Em virtude disso, a formação madrilena segue na liderança do campeonato com 24 pontos.
Já o Barcelona procura somar a terceira vitória consecutiva, depois de ter goleado o Olympiacos (6-1) na Liga Europa e de ter vencido o Girona por 2-1 para a LaLiga. Antes destes confrontos, os culés sofreram um duro revés com duas derrotas pesadas: PSG (1-2) e Sevilha (4-1).
Na liga espanhola, o Barcelona é 2.º classificado com 22 pontos, a dois do líder merengue. Os catalães perderam pontos contra o Sevilha e o Rayo Vallecano (1-1) na terceira jornada.
Real Madrid-Barcelona: imagens de duelos no ‘El Clásico
Histórico de confrontos: equilíbrio é palavra de ordem
Já existiram 261 ‘El Clásico’ ao longo da história e o histórico de resultados não podia ser mais equilibrado.
O Real Madrid leva uma vantagem de uma vitória com 105 triunfos conquistados contra os 104 do Barcelona. Pelo meio, existiram 52 empates nas várias competições. Também ao nível dos golos há muito equilíbrio com os culés com um registo de 435 golos, frente aos 440 dos merengues.
Na última temporada, foi o Barcelona que dominou 100% dos duelos, deixando o Real Madrid repleto de derrotas no embate histórico.
O jogo deste domingo terá lugar no Santiago Bernabéu, que vai receber o Real Madrid-Barcelona pela 126.ª vez.
Políticas e ideais opostos
São séculos de história que começam com posições diferentes na política espanhola e com o surgimento de um clube que se torna o símbolo maior da Catalunha. Foi em 1899 que nasceu o FC Barcelona, pelas mãos de Joan Gamper, que ficou imortalizado por ser ‘Més que un club’ (Mais que um clube) para a região. No fundo, o clube passa a ser a maior representação da afirmação catalã, pela independência da região e como símbolo de resistência ao regime. O castelhano foi substituído pelo catalão, ao mesmo tempo em que as cores e o escudo começaram a erguer a honra da Catalunha na luta contra o Centralismo.
É justamente desse lado que sempre esteve o Real Madrid, um clube frequentemente associado à monarquia na defesa da união da Nação. A história leva a crer que a ligação dos merengues ao regime foi uma constante, algo que se fortificou a partir de 1943.
A Guerra Civil deixou o Barcelona em crise, principalmente com a morte do seu presidente, Josep Sunyol, por tropas franquistas em 1936. O clube passou a ser alvo de uma repressão cultural, depois de os nacionalistas ocuparem a Catalunha, em que as marcas catalãs foram proibidas e substituídas por símbolos castelhanos.
A opressão continuou a tomar conta do futebol espanhol e um dos exemplos é a maior goleada da história entre os dois clubes. Foi em 1943 que o Real Madrid venceu o Barcelona por 11-1, num jogo em que o diretor da polícia política terá visitado o balneário catalão para relembrar os jogadores do ‘perdão’ do regime perante a falta de patriotismo do clube.
Polémicas entre jogadores e rivalidade intensificada dentro de campo
Contudo, esta não foi a única intromissão do regime entre os dois clubes, com destaque para a transferência de Alfredo di Stefano para o Real Madrid em 1953. O jogador argentino foi ‘roubado’ pelo Real Madrid ao Barcelona com ajuda do Governo franquista, perpetuando as rivalidades com o decorrer dos anos.
Anos mais tarde, o Barcelona ganhou a sua estrela maior: Johan Cruyff. A partir daí, o estilo de jogo mudou e os blaugrana começaram a brilhar dentro de campo de uma forma que alterou o mundo do futebol. A chegada do triunfo vindo do Ajax amenizou a intensidade dos duelos, mas os anos 2000 voltaram a tomar conta das emoções nas bancadas.
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Foi na mudança de século que Luís Figo quis deixar de ser um ídolo para passar a ser ‘persona non grata’ em Barcelona. O português rumou ao rival Real Madrid e passou a ser ‘blanco’, bem como o protagonista de um dos jogos mais tumultuosos de que há memória. A 21 de outubro de 2000, Luís Figo regressou a Camp Nou com a camisola merengue e os assobios fizeram tremer o estádio. Os insultos foram palavra de ordem, os arremessos mais do que muitos e até uma cabeça de porco houve em campo.
Sorte diferente teve Ronaldinho Gaúcho, que chegou a ser aplaudido pelos adeptos do Real Madrid no Bernabéu, em 2005/06. Só um jogo imaculado do brasileiro permitiu que a rivalidade fosse posta de lado, num clássico feliz para o Barcelona (0-3).
Poucos anos depois, o ‘El Clásico’ ganhou novos contornos com a chegada do jovem Pep Guardiola ao comando técnico dos catalães, numa equipa repleta de qualidade. Nomes como Puyol, Xavi, Eto’o brilhavam, tal como um Lionel Messi a crescer a olhos vistos.
A hegemonia ficou do lado da Catalunha, mas o Real Madrid procurou responder e chegaram novos capítulos na rivalidade eterna. Cristiano Ronaldo chegou, tal como Kaká ou a ainda promessa Karim Benzema. José Mourinho também teve uma palavra a dizer ao leme dos merengues, rivalizando com Pep Guardiola fora das quatro linhas.
Dentro de campo, começou a desenvolver-se o duelo entre Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, que também contribui para a maestria deste jogo.
Mais recentemente, o Real Madrid voltou ao comando das vitórias, principalmente com o trio BBC (Karim Benzema, Gareth Bale e Cristiano Ronaldo). No lado oposto, imortalizou-se o MSN (Messi, Luis Suárez e Neymar).
Contudo, tudo tem um fim e em 2018, Cristiano Ronaldo fechou o ciclo dos madrilenos, tal como Lionel Messi no Barcelona em 2020.
Desde então, nenhuma outra rivalidade saltou à vista para que se possa afirmar que irá entrar na história do ‘El Clásico’. No entanto, não faltam motivos para que este continue a ser um dos jogos mais apetecíveis do ano com a especificidade de estar repleto de enredos políticos e culturais, que ainda hoje dividem Espanha.























