É um problema que não é de agora, mas que nas últimas semanas voltou a dar que falar no mundo do desporto. O envolvimento de basquetebolistas e treinadores no mundo das apostas foi, recentemente, notícia na NBA e esta semana, na Turquia, veio a público mais um escândalo, depois de conhecido o número de árbitros inscritos em sites de apostas.
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Na NBA, a investigação remonta já a 2023, mas só agora veio a público. Num embate entre os New Orleans Pelicans e os Charlotte Hornets, os primeiros venceram por 115-89 e nunca estiveram atrás do resultado.
Um resultado natural e que na altura não terá saltado à vista de ninguém. Mas as crónicas do encontro faziam notar que para a expressiva margem do resultado poderia ter contribuído o facto de o base dos Hornets, Terry Rozier, ter abandonado a partida mais cedo, queixando-se de dores no pé direito, e não regressou.
Agora, concluída a investigação, os procuradores federais de Nova Iorque dizem que não foi uma coincidência. Segundo a acusação, antes do jogo, Rozier contou a um amigo de infância que pretendia fingir uma lesão, permitindo assim que esse amigo fizesse apostas certeiras em relação ao desempenho de Rozier nesse encontro. Um tipo de apostas que permite aos utilizadores, por exemplo, apostar se um jogador acumulará mais (“acima”) ou menos (“abaixo”) do que o um determinado total de minutos, pontos ou ressaltos, por exemplo.
O amigo de Rozier terá depois vendido essa informação a um número significativo de outros apostadores, que juntos apostaram centenas de milhares de dólares num mau desempenho de Terry Rozier. Rozier saiu de campo depois de marcar apenas 5 pontos em menos de 10 minutos de jogo, com as apostas num mau desempenho do base a renderem e muito.
Ainda de acordo com a acusação dos procuradores, alguns dias mais tarde os apostadores reuniram-se em Filadélfia para acertar as contas com o amigo de Rozier, que se dirigiu depois a casa de Rozier, em Charlotte, para juntos contarem o dinheiro juntos.
Este tipo de apostas em eventos específicos — apostas de que um determinado evento ocorrerá ou não num jogo — constitui um problema por ser algo em que um olhar comum não repararia de imediato (não se tratando, por exemplo, de uma equipa ou um jogador estar a perder propositadamente).
Não são a única forma de batota apontada neste escândalo agora colocado a nu na NBA, e que envolve jogadores atuais e antigos jogadores, treinadores, apostadores desportivos empreendedores e associados da máfia que gerem jogos de póquer manipulados, mas estão no centro da história. E, dada a dificuldade em comprová-los, poderão estar no centro de muitos outros escândalos de apostas desportivas no futuro.
Trata-se de uma séria ameaça à indústria de apostas, à legitimidade dos jogos a que os adeptos assistem e à confiança do público na seriedade que das competições.
O portal norte-americano ‘Fast Company’, aponta que o muito dinheiro gerado pelas apostas em casas de apostas legais é importante para as ligas, que por isso ficam de mãos atadas para tomarem outro tipo de medidas. Para os apostadores, este tipo de apostas especiais são populares porque são divertidas, oferecem uma razão para torcer por jogadores com os quais, de outra forma, não se importariam, e fazem os adeptos acreditar que conhecem as equipas melhor do que qualquer especialista.
E podem – como agora se viu na NBA – ferir gravemente a integridade do jogo.
O caso de Rozier é apenas mais um exemplo e faz lembrar outros, recentes, como por exemplo o que envolveu Lucas Paquetá, acusado – e entretanto absolvido – de receber cartões amarelos intencionalmente em jogos da Premier League.
Árbitros inscritos em sites de apostas na Turquia
Já na Turquia o problema foi outro. Uma investigação revelou que nas ligas profissionais daquele país, 371 dos 571 árbitros ativos têm contas em sites de apostas. E que 152 deles estão a apostar ativamente.
Entre os investigados há quase 50 árbitros que realizaram mais de mil apostas cada um, sendo que o escândalo é transversal a várias categorias: sete árbitros de topo, 15 árbitros assistentes também de topo e 130 de segundo patamar, mas ainda assim do futebol profissional. Estes detalhes sugerem que poderá até haver árbitros internacionais envolvidos, ainda que não seja um dado conhecido.
O Comité Disciplinar vai agora investigar mais profundamente os árbitros em causa, os quais deverão ser alvo de sanções.
Os clubes na Turquia pedem, entretanto, que a Federação partilhe os nomes dos árbitros e que a situação seja resolvida rapidamente.
“A descoberta de que os árbitros, responsáveis por garantir a justiça em campo, têm contas de apostas e fazem apostas ativamente é um duro golpe, não apenas para a ética desportiva, mas também para os valores fundamentais do futebol turco”, escreveu, em comunicado, o Galatasaray.
“Para que a confiança no futebol turco seja restabelecida, é essencial que as informações sejam partilhadas sem ocultação e sem deixar margem para dúvidas. Caso contrário, não será possível reconstruir o sentimento de confiança no meio futebolístico”, sublinha o Fenerbahçe.























