A vitória do FC Porto ante do Twente no domingo, no regresso da equipa azul branca ao Dragão, deu para perceber algumas das ideias de Francesco Farioli, novo timoneiro da equipa, mas também ver em ação alguns os reforços para a nova época.
A ideia: 4-3-3, saída curta, referências individuais na marcação
O jogo com o Twente foi o primeiro grande teste desde a chegada do italiano. Mas não deu para ver muita coisa porque a segunda parte foi jogada com 10 jogadores de cada lado, após as expulsões de Gabri Veiga nos azuis e brancos e de Naci Unuvar nos neerlandeses, após uma troca de agressões no final do primeiro tempo.
Farioli organizou a equipa num 4-3-3, com um pivô defensivo – Alan Varela – atrás de dois interiores de alta rotação (Gabri Veiga e Victor Froholdt), trabalhadores, mas com muita chegada à área. Samu foi o homem do ataque, apoiado por Pepê e Borja Sainz. Prpic foi titular, ao lado de Nehuén Pérez no centro da defesa, Zaidu o lateral esquerdo e Martin Fernandes o lateral direito.
A equipa saiu quase sempre curta, atraindo a pressão por dentro para sair por fora, pelos laterais. Com o Twente a jogar da mesma forma, os azuis e brancos conseguiram bater a pressão dos neerlandeses em algumas ocasiões e sair em ataque rápido, com Froholdt a assumir um papel importante nesse aspeto.
A defender, a equipa cometeu alguns erros de posicionamento, e alguns erros individuais resultaram em lances que resultara em perigo do adversário e mesmo em golo, como o corte falhado de Nehuem Pérez que depois termina em golo. Zaidu muito por dentro, quase entre os centrais, Borja Sainz a não acompanhar o lateral direito, entre outros pormenores importantes.
Os jogadores foram deixados, muitas vezes, em situações de um contra-um, tanto a atacar como a defender.
A equipa precisa de crescer e é provável que se mostre isso no próximo domingo no mesmo palco, na apresentação aos sócios, diante do Atlético Madrid.
FOTOS: O FC Porto-Twente em imagens
Os reforços
Dominik Prpić deu mostras que o FC Porto pode contar com ele para o imediato, embora seja um projeto de longo prazo. O central croata de 21 anos deu nas vistas com bola, a sair, sempre com calma (às vezes até com calma a mais), conseguindo meter alguns passes verticais pelo meio, queimando linhas, mostrando excelente capacidade de passe. A defender, travou um duelo intenso e quezilento com Ricky van Wolfswinkel, mostrando personalidade e atitude. Nunca se escondeu nos duelos.
Os 61 minutos de Victor Froholdt foram suficientes para os adeptos portistas perceberem a razão do grande investimento feito no dinamarquês de 19 anos. Não sendo um panzer, é um trabalhador incansável, muito inteligente. Um ‘ladrão’ de bolas, como se viu nas inúmeras recuperações de posse que conseguiu na zona intermédia, a descair para a direita. Além disso, destaca-se na forma como ‘come’ metros com a bola, atacando o espaço, mas também na intensidade na disputa dos lances.
Gabri Veiga não tinha deixado grandes indicações no Mundial de Clubes mas, com o tempo, vai mostrando que pode ser útil. Como interior esquerdo, destacou-se no passe, mas também na chegada à área contrária. Mostrou bom envolvimento com Borja Sainz, mas precisa de subir a intensidade e a decisão no último terço. A sua estreia no Dragão fica marcado pelo vermelho direito que viu aos 44 minutos, após desentendimento com um adversário.
Borja Sainz não deixou tão boas indicações como os demais reforços. Vê-se que é um jogador tecnicista, bom no drible, rápido, mas ainda está trapalhão. Desperdiçou dois lances de golo, ao rematar mal, mas perdeu outras bolas onde tentou ações mais individuais quando se pedia que se desfizesse da bola. É um ‘upgrade’ a nível ofensivo, mas os 61 minutos em campo não deu para mostrar tudo.
Alberto Costa só jogou 20 minutos, suficientes para deixar boas indicações. Entrou com muita vontade, sólido a defender, e intenso na frente, aproveitando também o muito espaço pelo facto de haver menos dois jogadores em campo. É mais ofensivo que Martin Fernandes. O tempo dirá se o FC Porto ficou a ganhar na troca com João Mário.
E os outros?
William Gomes entrou aos 61 minutos para ‘dinamitar’ o ataque azul e branco. O que mostrou na meia hora em campo foi o prolongamento dos bons momentos deixados no Mundial de Clubes. Desta vez, descaído para a direita, deu muito trabalho aos adversários. Atirou a barra num grande remate arco para Samu empatar, na recarga. Depois ganhou a grande penalidade que ele mesmo converteu para o 2-1 final. A forma como consegue esticar-se todo para tentar ganhar a bola e sofrer falta, mostra que está determinado em provar o seu valor. Foi o melhor do FC Porto, a par de Froholdt.
Ter Alan Varela como ‘6’ e tentar sair curto desde a área parece suicida, como já era com Martin Anselmi. A diferença é que Farioli prefere que a equipa liga o jogo pelas zonas laterais, mas será preciso acerto no passe e na decisão, coisa que Alan Varela não mostrou no ano passado e continua a não mostrar. O mesmo admitiu que a sua época foi má, pelo que se for ele o homem à frente dos centrais, precisa de dar um salto qualitativo no passe.
Nehuén Pérez falhou o corte que resultou no golo do Twente, e continua com os mesmos problemas da época passada, principalmente na leitura das jogadas. Ia fazendo autogolo no primeiro tempo, embora a culpa fosse do corte falhado de Prpíc. Precisa de dar o salto, de crescer, de cometer menos erros de avaliação se quiser ser titular.
Samu fez o golo do empate, num desvio pleno de oportunidade, mas o FC Porto precisa de um avançado que sombra ao espanhol. Continua a decidir mal quando tem a bola, tecnicamente mostra-se trapalhão, às vezes. Mas continua incansável na pressão, ajudando a equipa logo na primeira fase na tentativa de recuperar a bola.
Pepê precisa urgentemente de melhorar na decisão com bola. A defender, jogou muitas vezes como médio interior, principalmente após a expulsão de Gabri Veiga, mas continua a decidir mal no último terço. Os seus remates raramente levam a direção da baliza e isso explica a fraca produtividade em termos de participação em golo desde que trocou o Grêmio pelo FC Porto.
Defensivamente foi importante e útil, mas o FC Porto precisa que mostre a sua melhor versão com bola, no último terço.
Fica por saber qual o papel de Rodrigo Mora com Farioli. O jovem prodígio entrou no segundo tempo, mas nada acrescentou ao jogo. De recordar que já tinha jogado (e marcado) de manhã, na vitória por 2-1 diante do Feirense no Olival, num jogo onde muitos dos jogadores titulares foram depois lançados no segundo tempo diante dos neerlandeses.
Mora poderá jogar num dos vértices do meio-campo, ou então descaído para um dos flancos como um falso extremo.
O próximo duelo com o FC Porto é no domingo, na apresentação da equipa aos sócios, diante do Atlético Madrid.