Portugal voltou a adiar o apuramento para a fase final do Mundial 2026 de futebol, ao perder esta noite em Dublin com a República da Irlanda por 2-0. Troy Parrott foi o carrasco de Portugal, ao fazer os dois golos dos irlandeses no primeiro tempo, num jogo em que Cristiano Ronaldo foi expulso com vermelho direto, no segundo tempo, por agressão.
Portugal continua a depender de si para garantir o apuramento direto: é só ganhar no domingo, no Dragão, a Arménia, seleção que os lusos golearam por 5-0 em Yerevan.
Também só tinha de vencer a Hungria para se apurar e sofreu o golo do empate nos descontos, em Alvalade, em outubro. E hoje, só tinha de ganhar para também se apurar e foi o que foi: um desnorte completo, numa seleção sem ideias.
FOTOS: O Irlanda-Portugal em imagens
Uma primeira parte para não repetir
Vamos a primeira parte: é para esquecer. Foi tudo aquilo que Portugal não devia ter feito, em todos os aspetos. Mas é preciso falar dela.
Todos sabiam o que Irlanda iria fazer: uma linha de cinco a defender, outra de três à frente e os dois lá na frente – Ogbene e Parrott – a tentar o que lhes era servido. Porque o jogo do selecionador Heimir Hallgrímsson tinha tudo menos segredos: recuperar a bola, alongar logo na frente para a velocidade dos dois homens mais adiantados. Se ganhassem a bola, os laterais podiam aparecer para ajudar. Se não viessem, tinham de tratar de resolver tudo à sua maneira. E como resolveram!
A lenta circulação de bola de Portugal dava tempo para a Irlanda reorganizar a sua defesa e tapar os caminhos para a sua baliza. A falta de desequilibradores nas escolhas iniciais de Roberto Martinez deixava Portugal com vários jogadores de perfil muito idêntico, principalmente os três médios – Vitinha, João Neves e Ruben Neves – a juntar-se a um Bernardo Silva, mais médio que extremo, mas colocado na ala direita.
A Irlanda encontrava petróleo no quintal de Portugal sempre que alongava uma bola em Ogbene e Parrott. Depois de Vitinha e João Neves terem anulado dois contra-ataques muito perigosos dos irlandeses, a equipa da casa marcou, aos 17 minutos. Diogo Costa complicou no passe e quase fazia penálti, mas conseguiu desviar para canto. Na sequência da jogada, a bola foi colocada ao segundo poste em Sclales que meteu de cabeça para a pequena área onde Parrott, sozinho, encostou também de cabeça, para o fundo das redes. Loucura no Aviva Stadium.
Favorito e obrigado a vencer para confirmar já hoje o apuramento, Portugal perdeu o norte, intranquilizou-se e galvanizou os irlandeses. Azaz atirou à figura de Diogo Costa, aos 20; Vitinha impediu Ogbene de receber aos 35, na área; Ogbene atirou ao poste aos 38′, já com Diogo Costa batido.
A pequena reação de Portugal acabou nas bancadas, primeiro num remate de Dalot após confusão na área, aos 41, e depois por João Félix e Dalot, aos 45, num remate que acabou nas pernas de um contrário.
A Irlanda, que criava perigo em cada investida ao meio-campo contrário, fez o 2-0, novamente por Troy Parrott aos 45 minutos. O avançado do AZ Alkmaar recebeu um passe longo na esquerda, fletiu para o meio com a marcação de Gonçalo Inácio antes de atirar colocado, junto ao poste mais perto de Diogo Costa. Festa rija nas bancadas!
Ronaldo complica tudo: agressão a adversário e expulsão com vermelho direto
Se é verdade que a defesa esteve muito mal no primeiro tempo, sem capacidade para travar o ataque irlandês, ofensivamente também Portugal tinha deixado muito a desejar. E a opção do selecionador Roberto Martinez foi trocar de lateral esquerdo (Nelson Semedo no lugar de João Cancelo) e de central (Renato Veiga no posto de Gonçalo Inácio), ao intervalo.
A entrada até é boa, com Vitinha a falar de forma escandalosa um primeiro desvio de Renato Veiga.
Mas o jogo direto com que Portugal entrou no segundo tempo não era a resposta. Muito menos a falta de capacidade emocional de Cristiano Ronaldo. Agrediu O’Shea na área irlandesa, o árbitro sueco Glenn Nyberg, começou por mostrar-lhe amarelo mas, alertado pelo VAR, o neerlandês Paulus van Boekel, foi rever a jogada e mostrou vermelho direto ao capitão de Portugal, que assim falha o último jogo no Dragão, com a Arménia.
Cristiano Ronaldo que tanto pediu cabeça aos colegas na antevisão da partida, foi o primeiro a perder as estribeiras.
Roberto Martinez tentou reformular a equipa, lançando finalmente dois extremos puros – Francisco Trincão e Rafael Leão – nos lugares de Bernardo Silva e João Félix, aos 63. E aos 78, trocou João Neves por Gonçalo Ramos. Mas pouco havia a fazer.
A derrota tática de Portugal, o desnorte, era visível na forma como a equipa queria atacar: cruzamentos e mais cruzamentos, sem jogadores na área contra as torres irlandesas.
A Irlanda, sem pressas, ainda ameaçou o 3-0 por Ogbene, antes de sair, e também de Azar, outro que também acabou substituído.
Aos 89, finalmente um lance de perigo de Portugal: remate forte de Gonçalo Ramos para grande defesa de Kelleher. E, na resposta, Renato Veiga inventou e ia permitindo o 3-0 a Johnston. Valeu Ruben Dias a cortar. Nos descontos, Gonçalo Ramos falhou um golo e o guarda-redes Kelleher voltou a brilhar a remate de Ruben Neves.
Portugal só tem de vencer a Arménia no Dragão, no domingo, para se apurar para o Mundial 2026. Não haverá Ronaldo, mas Bruno Fernandes estará de regresso.
A seleção nacional continua a liderar o Grupo F com 10 pontos, seguido da Hungria com oito. A República da Irlanda tem sete, a Arménia soma três.























