O Curaçau converteu-se no mais pequeno país do Mundo, em população e extensão, a apurar-se para a fase final de um Mundial de Futebol. Com os seus 155 mil habitantes (basicamente, a população de Odivelas ou Coimbra) e 444 km de área, o país do Mar do Caribe que fica a 55 km da costa da Venezuela, será o quarto estreante na prova que decorrerá no próximo verão nos EUA, Canadá e México, após os apuramentos de Uzbequistão, Jordânia e Cabo Verde.
É ainda o quinto país do Caribe a marcar presença num Mundial, depois de Cuba, Haiti, Jamaica e Trinidad e Tobago.
Esta madrugada, o pequeno país da antiga colónia dos Países Baixos, foi até Kingston, Jamaica, conseguir o empate (0-0) para terminar na liderança do Grupo B da Concacaf (12 pontos), à frente dos Reggae Boyz que terão de disputar um play-off. Depois, foi fazer a festa.
“Depois de 21 anos, conseguimos finalizar o nosso projeto mundialista começado em 2004. É uma sensação muito grande, muito bonita e é dedicado a todos os curaçauenses que estão em todo o mundo: Américas, Europa, na Ilha… e também àqueles que gostam de Curaçau, senda onde for. Somos pequenos em tamanho, mas grandes de alma e coração. Creio que a base do sucesso foi a perseverança. Todos acreditámos que um dia iríamos apurar-nos para o Mundial, e finalmente conseguimos”, comentou Gilbert Martina, presidente da Federação de de futebol de Curaçau, no final do jogo.
Questionado sobre que adversários gostaria de apanhar, o líder da federação do pequeno país da antiga Guiana holandesa, do grupo de ilhas das Antilhas Holandesas, disse que não se importa, até porque o grande prémio já foi conseguido.
“Que venham todos! Já ganhamos o nosso mundial”, atirou Gilbert Martina, o homem que comanda a federação que só existe desde 2011.
Já o capitão Leandro Bacuna destacou a luta para colocar o país entre as 48 seleções do Mundial de 2026.
“Estamos muito felizes, isto significa muito para nós. Lutámos muito nos últimos 15 anos para estar aqui, merecemos. Não quero saber que adversários podemos defrontar. Ninguém acreditava em nós e conseguimos [o apuramento]”, destacou.
O filho de uma filha da terra e um técnico com 18 títulos na carreira para dar vida e cor ao sonho
O milagre é produto da diáspora Curaçauense nos Países Baixos e tem dedo de Patrick Kluivert, antigo internacional neerlandês. Após terminar a carreira, o antigo avançado quis ajudar o futebol do pequeno país onde nasceu a mãe Lidwina Kluivert.
Sem condições para recrutar jogadores no país, Patrick Kluivert, que foi selecionador do Curaçau em 2015, começou por convencer holandeses com raízes em Curaçau a representar a terra dos seus país e avós. E teve sucesso.
Levou o atual capitão da seleção, Leandro Bacuna, que já atuou em clubes como Aston Villa, Reading, Cardiff, Watford e Groningen; o seu irmão Juninho Bacuna (Groningen, Rangers, Birmingham, etc); Jurgen Locadia (Brighton, PSV, Bochum, Hoffenhein, FC Cincinnati); Vurnon Anita (Ajax, Newcastle, Willem II), Cuco Martina (Feyenoord, Everton, Southapmpton, Stoke City, Twente); Armando Obispo (PSV), entre outros.
Além destes, há três jogadores com ligações a Portugal: Riechedly Bazoer, atualmente no Konyaspor, passou pelo FC Porto em 2018/19; o exremo Kenji Gorré joga no Maccabi Haifa, de Israel, mas defendeu as cores de Nacional, Estoril e Boavista no nosso país; e Jeremy Antonisse, que trocou o Moreirense pelo Kifisias da Grécia no final da época passada, após dois anos em Portugal.
E ainda podiam estar na seleção os internacionais neerlandeses Jurriën Timber, Quinten Timber, Jorrel Hato, Lutsharel Geertruida, Quilindschy Hartman e Tyrell Malacia, todos com raízes no Curaçau.
O apuramento do Curaçau traz também alguns dados curiosos: é o primeiro país a estar num Mundial de futebol com jogadores exclusivamente nascidos fora do seu território. É que todos os que estiveram envolvidos na qualificação nasceram nos Países Baixos.
Além de Kluivert, outro neerlandês assume papel crucial neste histórico apuramento: Dick Advocaat, treinador neerlandês de 78 anos. Foi ele o homem o leme, apesar de não estar, em Kingston, na madrugada de terça para quarta-feira, por motivos pessoais. À distância, comandou os adjuntos no empate que era preciso para o apuramento.
Dick Advocaat estará no seu terceiro mundial, ele que comandou os Países Baixos em até aos quartos de final em 1994 nos EUA (eliminado pelo campeão Brasil) e ainda na Coreia do Sul em 2006, onde não passou da fase de grupos.























