Luís Domingos jogou basquetebol em cadeira de rodas em Portugal. Mudou-se para o râguebi em cadeira de rodas em Inglaterra, onde ao mesmo tempo está a tirar um curso de gestão de empresas em Huddersfield. E agora foi convocado para representar aquele país em quatro encontros amigáveis no final de outubro e início de novembro, na Austrália.
– Tudo sobre o desporto nacional e internacional em sportinforma.sapo.pt –
Domingos, de 27 anos, atua nos Castleford Tigers e à BBC Sport confessou que nada disto fazia parte dos seus planos quando regressou a Inglaterra depois de vários anos a jogar basquetebol em cadeira de rodas em Itália, Espanha e Portugal, modalidade que chegou a praticar a nível profissional.
“Foi sobretudo por causa da família e por querer alcançar um objetivo meu, que era formar-me”, explica.
“Quando se pratica um desporto durante tanto tempo, habituamo-nos e isso torna-se normal. Mas quis experimentar coisas diferentes na vida e formar-me é uma das coisas que quero alcançar. E quero fazê-lo ainda jovem, não depois de terminar a minha carreira.”
Natural de Setúbal, de ascendência angolana, Domingos é viu-se remetido a uma cadeira de rodas devido a uma crise de poliomielite na infância. Mudou-se para Leeds com a família aos 14 anos e começou a jogar basquetebol em cadeira de rodas pelos Leeds Spiders, por diversão, e depois rugby com o Leeds Rhinos, para melhorar a forma física.
A qualidade que demonstrou no basquetebol chamou a atenção do co-capitão português Pedro Bartolo, que na altura jogava profissionalmente na Série A italiana de basquetebol em cadeira de rodas,m ao serviço do Varese. Domingos foi convidado a ir àquela cidade do norte de Itália para um teste.
“Foi por volta de 2019”, recorda, citado pela BBC Sport. “Convidaram-me para um teste de duas semanas mas, passados três ou quatro dias, disseram: ‘Ok, faz as malas e vem para aqui. Gostamos de ti’.”
A oferta de um contrato profissional, no entanto, trouxe um problema: o Varese queria Domingos imediatamente, mas ele estava a meio dos estudos na área da saúde no Leeds City College. A solução? E explicou a situação aos responsáveis.
“Falei com a minha faculdade e permitiram-me fazer o curso online”, disse. “Era uma oportunidade demasiado boa para recusar. Para mim, não era uma questão de dinheiro, era apenas a oportunidade de treinar todos os dias”, sublinha na referida entrevista à BBC Sport.
“Fui por minha conta. Na altura não me importei, porque ia viver o meu sonho. Mas assim que lá cheguei, tive um choque de realidade. Era um país caro. Foi difícil passar de comer a comida da minha mãe todos os dias para ter de cozinhar todos os dias. Foi desafiante. Mas foi uma experiência incrível”, recorda.
Domingos concluiu mesmo o curso de saúde e, nos anos seguintes, passou uma temporada em Espanha, ao serviço do Basketmi Ferrol, da segunda divisão, e do Servigest Burgos, da primeira divisão. Depois, seguiu o seu amigo e mentor Bartolo para Portugal, onde se juntou ao BC Gaia, acumulando participações internacionais pelo país onde nasceu.
“Espanha é a maior Liga do mundo. É a NBA do basquetebol em cadeira de rodas”, explica Domingos.
“Joguei ao lado de dois dos melhores jogadores: Mateusz Filipski, conhecido como o Steph Curry do basquetebol em cadeira de rodas. Consegue lançar de qualquer lado. É um bom líder, um ser humano incrível.” E joguei ao lado de Lee Fryer, um dos jogadores emergentes mais promissores de Inglaterra”, conta.
Mas Domingos quis regressar a Inglaterra para estudar. Iniciou um curso de gestão de empresas na Universidade de Huddersfield e deverá licenciar-se no próximo verão. Foi mantendo a forma física jogando basquetebol em cadeira de rodas por uma equipa em Wakefield, que partilhava as instalações de treino com o Castleford, equipa de rugby do Campeonato em Cadeira de Rodas. E foi aí que um amigo o incentivou a juntar-se ao Cas. Foi a partir daí que tudo se desenvolveu.
Em abril, marcou o ensaio da vitória na vitória sobre os North Wales Crusaders, que conquistaram o Troféu Challenge em Cadeira de Rodas para clubes da segunda divisão. Em junho, foi convocado para a seleção nacional de alto rendimento da Inglaterra, composta por 17 jogadores.
E depois, em agosto, ficou entre os 10 convocados para voar com os ‘Ashes’, como é conhecida a seleção da Inglaterra, para a Austrália, para a qual é elegível por ter regime de residência. A sua época a nível interno foi coroada no mês passado com o triunfo do Castleford sobre o Rochdale na Grande Final do Campeonato Inglês em Cadeira de Rodas.
“É incrível fazer parte dos Ashes”, disse. “A Inglaterra é uma família”. Sinto-me privilegiado por fazer parte disto, confessa à BBC Sport.
“Penso que as minhas experiências em Portugal me vão ajudar a lidar com a pressão. Posso aplicar algumas das coisas que aprendi em contextos profissionais. Neste momento, estou a gostar bastante”, remata.