Dublin, 13 de Novembro de 2025, chegávamos com aquela confiança típica de quem acha que “é só a Irlanda, pá, já está ganho, só falta saber por quantos”. Os comentadores falavam de apuramento quase garantido e os jornais desportivos já tinham manchetes prontas sobre “a receita de Martínez”. A nação aguardava em frente à televisão o apuramento da Seleção.
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A realidade? A Irlanda entrou em campo como se o jogo fosse uma final da vida e no fundo para alguns acabou por ser o jogo da vida deles. Portugal entrou como quem vai ao Auchan comprar fiambre da semana mas esqueceu-se da carteira e do telemóvel no carro. Achavam que me apanhavam com o ‘MBway’.
Roberto Martínez, tranquilíssimo, achava que dominar a posse era sinónimo de dominar o jogo e que o resto se resolvia sozinho. O meio-campo parecia um elétrico sem carris. A defesa, um bolo-rei sem fruta. O ataque, um anúncio vazio da Puma centrado no Cristiano Ronaldo.
Em suma, tudo preparado para o desastre iminente, mas ninguém quis ler o guião.
Portugal até começou com a bola. A famosa posse estéril de Martínez, 400 passes, zero ideias. Parecíamos aquele aluno que escreve muito no teste, mas nada tem a ver com a matéria.
Passaram 15 minutos e a Irlanda já tinha percebido tudo: “Estes gajos só andam aqui a passar a bola em triângulos… tranquilos, eles acabam por enterrar-se sozinhos, vamos lixa-lhes a geometria.”
Dito e feito. Canto para a Irlanda aos 17 minutos, a defesa portuguesa em ‘power-nap’ e Parrott mete a bola lá dentro como quem abre sardinhas em lata para turista.
1-0. O estádio vibra como se tivessem ganho o Campeonato do Mundo.
E Portugal? Nada, nem um abanão para irlandês ver. Continuávamos no modo “calminho”, como se fosse um amigável de pré-época com o Portimonense B.
O meio-campo, que supostamente é o “motor do talento português”, parecia mais uma oficina de motores queimados. Remates? Sim, houve dois ou três… daqueles que nem assustam miúdos dos infantis.
Quando achávamos que o intervalo ia permitir abanar a equipa… Buuuuuuum. Transição irlandesa, defesa portuguesa novamente a dormir de concha e Parrott outra vez a faturar. 2-0. O irlandês que tinha mais probabilidades de lhe sair o Euromilhões do que marcar dois golos a Portugal em 45 minutos estava a ter a noite da vida dele. Se o paraíso existe, Parrott alcançou o dele ontem. Já Diogo Costa parece que aproveita os jogos na Seleção Nacional para descomprimir da pressão dos jogos no clube.
Resumindo a primeira parte, a República da Irlanda parecia uma seleção organizada e Portugal parecia um grupo de Erasmus que se conheceu há meia hora na estação de São Bento.
A segunda parte chegou com aquele ar de “vá, agora é que vai ser, vamos lá dar a volta a isto”. Só que não, não foi de todo. O máximo que conseguimos foi um ou outro cruzamento para lugar nenhum, temos cruzamentos mais perigosos na Póvoa de Varzim do que na Seleção e mais uns minutos de posse que dava sono. Tínhamos dado a volta, mas era na caminha, de um lado para o outro porque continuávamos, como se diz aqui no norte, “a comer sono”.
Chega então o momento icónico do jogo, Cristiano Ronaldo é expulso.
Sim é verdade. O nosso capitão, o nosso líder, o homem que aguenta tudo não aguentou a pressão de um defesa irlandês a picar-lhe os miolos. Cristiano Ronaldo costuma bater recordes, agora bater em adversários foi a primeira vez.
Cotovelada no O’Shea. O VAR chama, Martínez põe a mão na cabeça como quem diz “não me façam isto agora”. O árbitro levanta o cartão vermelho com aquela calma de quem estava à espera disto desde o aquecimento. Já tem frase para a lápide: “Aqui jaz Nyberg, o primeiro árbitro na História a dar um cartão vermelho pela Seleção a Cristiano Ronaldo”.
Para o capitão português, primeira expulsão em 226 jogos pela Seleção. Já o conhecem, agora só para quando bater o recorde de mais vermelhos pela Seleção Nacional. Ligou logo no balneário ao Pepe para receber instruções.
Cristiano Ronaldo saiu furioso, mas a sensação é clara, foi o retrato perfeito da nossa Seleção, frustrada, perdida e incapaz de lidar com adversidade. (Tudo isto contra a República da Irlanda. A República da Irlanda, meu Deus, a maior parte dos portugueses até ontem nem sabia que existiam duas ‘Irlandas’.)
Roberto Martínez, quando questionado depois, tenta relativizar a expulsão “parece pior na imagem”. Claro que sim, Roberto, se calhar é capaz de ter sido a ‘GoPro’ que deu a cotovelada no irlandês, não o Ronaldo. Já tu, caro Roberto, pareces pior na realidade do que na imagem, na imagem, com esse corte pareces pronto para ir inscrever-te no grupo “Reconquista”.
Com 10, Portugal então sim… desistiu oficialmente. Os últimos 30 minutos foram uma ‘masterclass’ em como NÃO reagir a um momento difícil.
Zero emoção. Zero alma. Zero futebol.
A República da Irlanda jogava como se estivesse protegendo um tesouro. Portugal jogava como se estivesse a proteger o ranking do ‘fair play’.
Perder com a República da Irlanda é mau, quer dizer, é muito mau. Ser dominado pela República da Irlanda é pior, é como andar na 4ª classe e levar nas trombas do miúdo do primeiro ano. Ser humilhado pela República da Irlanda e ainda perder o capitão por agressão nem parece realidade, parece uma comédia de domingo à tarde. Se fosse sócio da Seleção Nacional tinha rasgado o cartão ontem.
Portugal está a um passo do ridículo eterno, falhar este apuramento seria algo que entraria nos anais da História do futebol português. Roberto Martínez está preso por arames e esse arame chama-se Arménia. Caso falhe, amigos, é aproveitar o novo pacote laboral e despedir o espanhol por justa causa.
Domingo às 14 horas (quem fez este horário não tem respeito nenhum pela vitela assada) é ganhar ou ganhar!
Não há margem de erro, esse já o tiveram frente à Hungria e à República da Irlanda.
Viva o Futebol e acorda Portugal!























