48 seleções, 104 jogos nos três países de um continente. Dificilmente o Mundial 2026 seria amiga do ambiente. A ideia da FIFA em alargar a prova para 48 seleções recebeu críticas de ambientalistas, pelo impacto ambiental do mesmo nos três países: EUA, Canadá e México.
Madeleine Orr, especialista em desporto e clima disse à BBC Sport que a realização da prova, alargada para 48 seleções (há um projeto para ser disputado por 64 seleções em 2030) “envia uma mensagem perigosa sobre as intenções da FIFA” sobre o clima, já que a mesma “está completamente desalinhado com as promessas que [a FIFA] fez publicamente de reduzir as emissões de carbono”.
Na sua candidatura, os três países esperavam que o Mundial 2026 “estabelecesse novos padrões de sustentabilidade ambiental” com “benefícios ambientais mensuráveis”, algo que a professora assistente de ecologia do desporto na Universidade de Toronto não acredita ser possível.
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“Se o novo padrão for o evento mais intensivo em carbono de sempre, então sim”, disse, com ironia, Madeleine Orr.
As preocupações de Madeleine Orr vão ao encontro de um estudo recente da Scientists for Global Responsibility (SGR), que calculou que o torneio alargado a 48 seleções irá gerar mais de nove milhões de toneladas de dióxido de carbono, tornando-o a edição mais “nociva para o clima” da história do Mundial.
Temperaturas podem ultrapassar os 40 graus
As preocupações chegam também às condições para a prática de futebol, algo que já se viu neste verão com o Mundial de Clubes, com o calor a afetar vários jogos, além dos relâmpagos, que interromperam vários encontros.
14 das 16 cidades-sede do Mundial 2026 deverão estar vulneráveis a calor extremo durante o torneio, principalmente entre as 12h e as 16h, onde as condições para a prática do futebol poderão serão insuportáveis.
“Não estou preocupada com os atletas. Preocupa-me é haver 45.000 a 85.000 adeptos, além de 10.000 funcionários e jornalistas, no local durante longos períodos. Vai ser um desafio perceber como manter as pessoas em segurança. É uma conversa que está a acontecer, mas, até agora, não existe um plano concreto”, recordou Madeleine Orr, citado pela BBC Sport.
Gianni Infantino, presidente da FIFA, já tinha admitido em Roma, este mês, que as condições climáticas poderão levar o organismo a rever o calendário global no futebol. Sobre o Mundial 2026, o organismo sugeriu ajustar os horários dos jogos e recorrer a alguns estádios cobertos.
A questão do calor não é um tema novo. Quando os EUA organizaram, sozinhos, o Mundial em 1994, o jogo entre a República da Irlanda e o México em Orlando, foi disputado sob a 41 °C, o mais quente até hoje na história dos mundiais.
O recorde, acredita o meteorologista Simon King, poderá ser batido em 2026: “Em junho de 2023, uma vaga de calor extremo atingiu o Texas, a Flórida e o México durante várias semanas. Em Monterrey, as temperaturas chegaram aos 50 °C, e em Miami atingiram os 44 °C. É impossível prever com um ano de antecedência se cidades anfitriãs como essas terão condições de onda de calor, mas as alterações climáticas aumentam a probabilidade. E, se isso acontecer, poderá ser o Mundial mais quente de sempre”, garantiu, citado pela BBC Sport.
David Wheeler, médio do Wycombe Wanderers, defensor do meio ambiente no futebol e Embaixador da Sustentabilidade da Associação de Futebolistas Profissionais (PFA), não tem dúvidas sobre o impacto das alterações climáticas no futebol, mas lamenta que os decisores não estejam a fazer nada para mudar isso.