25 de agosto de 1992. O FC Porto vencia o Estoril Praia por 1-0 na primeira jornada da temporada. O autor do golo? O ‘miúdo’ Jorge Costa, no seu primeiro jogo oficial pelos azuis e brancos. Estava dado o mote para uma carreira inesquecível de dragão ao peito, que tornaria o defesa central numa das maiores lendas do clube.
Jorge Costa faleceu esta terça-feira, vítima de paragem cardiorrespiratória, sofrida em pleno centro de treinos do FC Porto, o seu clube de sempre. A sua carreira confunde-se com aquele que foi, talvez, o período de maior glória da história do emblema azul e branco. Quando se fala da ‘mística’ do FC Porto, o nome de Jorge Costa será, sem dúvida, um dos que primeiro vem à cabeça de todos os que o viram jogar.
Nasceu no Porto, a 14 de outubro de 1971 e aos 14 anos foi treinar ao FC Foz. Um ano chegou para rumar a outros voos, depois de o Foz ter feito três jogos contra equipas do FC Porto. Convenceu os dragões e apesar de Boavista e Leixões também terem chamado por ele, não teve dúvidas e escolheu mesmo os azuis e brancos.
Dois empréstimos antes de chegar à equipa principal
Começou por representar a equipa de juvenis e passou depois aos juniores, onde acabou por ajudar o FC Porto a sagrar-se campeão. Mas não passou diretamente à equipa principal.
Como fazia com várias jovens promessas na altura, o FC Porto optou por emprestá-lo nos dios primeiros anos de sénior. Pimeiro ao Penafiel, depois ao Marítimo. Pelo meio, o título Mundial de Sub-20 ao serviço de Portugal, em Lisboa.
Depois de uma boa temporada no Marítimo, cumpriu então o sonho de integrar a equipa principal do FC Porto, na época 1992/93.
Da estreia ao estatuto de símbolo do clube
Treinava nessa altura o FC Porto o brasileiro Carlos Alberto Silva. Jorge Costa estreou-se com o tal golo frente ao Estoril, logo na jornada inaugural e acabou por se sagrar campeão nacional (o primeiro dos oito títulos de campeão que conquistaria de dragão ao peito), disputando em 15 jogos, ‘tapado’ pelos também lendários centrais azuis e brancos Aloísio e Fernando Couto.
Essa temporada marcou também a sua estreia pela seleção principal de Portugal (a primeira de 50): foi num amigável contra a Bulgária. E foi também num jogo da seleção, já perto do final da temporada, que fez uma primeira rotura de ligamentos que o levou a terminar a temporada mais cedo, em abril.
Recuperou a tempo de jogar ainda na primeira metade da época seguinte, mas sem conseguir tirar da titularidade os esteios Aloísio e Fernando Couto. A titularidade chegou em 1994/95, com Bobby Robson como treinador, rumo à conquista de um campeonato que marcaria o início da caminhada para o penta. Em 95/96 sofreu nova lesão grave, falhando o Euro1996 por Portugal.
Mas uma vez mais a lesão não o parou. Em 1996/97 e 97/98, com António Oliveira como treinador, somou mais dois títulos e era já titular indiscutível. E foi no final dessa época que teve a honra de herdar o número 2 e a braçadeira de capitão, após o pendurar de chuteiras de João Pinto.
Foi com Jorge Costa como capitão que o FC Porto festejou o pentacampeonato, sob as ordens de Fernando Santos.
A braçadeira atirada para o chão e o empréstimo ao Charlton
Nem tudo fora, contudo, rosas. O FC Porto deixou fugir o título em 2000 e em 2001. As coisas não corriam bem e Jorge Costa viveu um episódio menos feliz como jogador do FC Porto. Em pleno Estádio das Antas, frente ao Vitória de Setúbal, Octávio Machado, que então orientava os azuis e brancos, optou por substituir Jorge Costa ainda antes do intervalo. O central atirou a braçadeira para o chão (segundo o mesmo, para a dar a Capucho, não em sinal de revolta).
Octávio Machado não gostou, Jorge Costa não pediu desculpa e no jogo seguinte a braçadeira não foi dele. O central foi perdendo espaço e acabou por ser emprestado ao Charlton, da Premier League, naquela que seria a sua primeira passagem pelo estrangeiro.
Regresso com Mourinho, para a glória definitiva
Jorge Costa só esteve meia época no Charlton, apesar de o clube inglês ter tentado exercer a opção de compra definitiva do seu passe. Só que ao leme do FC Porto tinha chegado, entretando, José Mourinho, que convenceu Jorge Costa a voltar, para ser o líder da equipa em campo e no balneário. E em boa hora o fez, rumo à conquista de dois troféus europeus.
A fazer dupla com Ricardo Carvalho, Jorge Cosa, novamente como capitão, ajudou então o FC Porto a vencer campeonato, Taça de Portugal e Taça UEFA em 2022/23. E, em 2023/24, iria mesmo erguer o troféu da Liga dos Campeões, lado a lado com Vítor Baía.
Mourinho, Ricardo Carvalho e muitos outros partiram após essa épica conquista, mas Jorge Costa ficou e ergueu ainda a Taça Intercontinental, em 04/05. Mas na temporada seguinte chegou Co Adriaanse, que tirou a titularidade a Jorge Costa, levando-o a optar por deixar o clube a meio da época, depois de 383 jogos disputados (e 25 golos marcados), conquistando 8 títulos de campeão, 5 Taças de Portugal, 5 Supertaças, 1 Taça Intercontinental, 1 Liga dos Campeões e 1 Taça UEFA, num total de 21 troféus!
Rumou à Bélgica para nova experiência no estrangeiro. Assinou pelo Standard Liège, onde reencontrou o amigo Sérgio Conceição. Jogou até ao final dessa época e, depois, optou por dizer adeus aos relvados.
Treinador itinerante
A estreia como treinador deu-se no SC Braga. Orientou depois a Olhanense (por quem conquistou a II Liga em 2009) e a Académica, antes de se aventurar no estrangeiro. Primeiro na Roménia, ao leme do Cluj (onde se sagrou campeão, em 2011), e depois no Chipre, ao leme de AEL Limassol e Anorthosis.
Regressou a Portugal para orientar o Paços de Ferreira, antes de se estrear como selecionador no comando do Gabão. Passou ainda por clubes da Tunísia, de França e da Índia, orientando ainda em Portugal o Farense, o Académico de Viseu e o AVS, última equipa que orientou.
Regressou à estrutura do FC Porto em 2024/25, desempenhando funções como diretor de futebol, acabando agora por falecer, em agosto de 2025, após ser levado de urgência para o hospital devido a uma paragem cardiorrespiratória sofrida no centro de treinos do Olival.