Portugal e Uruguai defrontam-se este sábado (15h00) no Estádio Nacional, em Oeiras, na primeira partida da “Janela Internacional de novembro”. A seleção nacional defronta ainda Hong Kong China (18, Estádio Nacional) e Canadá (22, em Coimbra).
À exceção dos jogos de qualificação para o Mundial da Austrália2027, no Rugby Europe Championship (REC 2025), esta é, talvez, uma das partidas mais importantes para Portugal após a presença no último campeonato do mundo, em França, em 2023. E, jogo está a posição a ocupar no ranking no final da Janela.
A Seleção Nacional (20ª do ranking da World Rugby) pode, assim como do Uruguai (19.º), saltar do Pote 4 (países do 19.º ao 24.º lugar da hierarquia), onde estão ambas as seleções, para o Pote 3 (13.º ao 18.º) no sorteio do Mundial, a realizar dia 3 de dezembro e, desta forma, retirar algum benefício na colocação nos seis grupos que compõem as 24 equipas presentes no campeonato do mundo.
“Estamos a dar uma importância especial a este jogo, mas não podemos falar que o sucesso do Râguebi português está dependente deste jogo”, disse Tomás Appleton.
O capitão dos Lobos reconhece a pressão existente “especialmente, por causa dos nossos últimos jogos (derrota com Espanha e Roménia, no REC2025 e Irlanda, no único jogo da janela de julho), mas não estamos a falar de uma pressão de vida ou morte, como se calhar era o apuramento para o Mundial”, esvaziou.
Para Tomás Appleton, “o nosso objetivo é ficar no Pote 3”. Aponta a “uma vitória contra o Uruguai, a única equipa à nossa frente no ranking” e deixa claro que “não estamos a pensar nas outras (seleções)”, assume à SPORTINFORMA.
Questionado sobre o grau de importância para o XV luso, Simon Mannix, selecionador nacional, respondeu. “O que muda no ranking, entre acabar em 13.º ou 18.º. Haverá uma grande diferença entre o 14.º, a Espanha, e o 24.º”, indagou.
Interrogatório à parte, Mannix, ao leme dos Lobos desde abril de 2024, admite, por fim, que “não é o mesmo” ser colocado num ou noutro Pote do sorteio e, por isso, defende que “o resultado é importante para nós como é para o Uruguai”, retorquiu.
“A Irlanda deixou uma ferida grande”
Os três jogos são “uma oportunidade incrível”, visto a seleção ter tido “poucas oportunidades” para reunir o melhor grupo possível. “Desde que cheguei, acho que fiz 10 jogos internacionais, tive o Samuel Marques disponível em três, Rodrigo Marta, 4”, lamentou a ausência dos jogadores da segunda divisão francesa (Pro2).
Simon Mannix reconhece a recente falta de atividade internacional dos Lobos, exceção feita ao Rugby Europe Championship (REC2025), torneio europeu que qualificou Portugal para a terceira participação num Mundial.
“Tivemos um jogo em julho (Irlanda), nem vou chamar de jogo. Foi um erro (ter sido marcado). Por quem? Não sei”, exclamou. “Na altura, foi um erro, não ter jogos prévios suficientes, não ter atletas disponíveis para jogar contra uma equipa que teve 9 jogadores, entre 23, para defrontar a Nova Zelândia, na semana passada”, fixou.
“Foi um jogo (Portugal-Irlanda) que provavelmente nunca deveria ter sido jogado, naquelas condições, sem preparação”, recuou.
A pesada derrota diante a seleção irlandesa (107-6) permanece viva na cabeça de Tomás Appleton. “A Irlanda deixou uma ferida grande”, confessou. “Uma ferida que só nos obriga a abrir os olhos e perceber que temos de trabalhar muito mais”, apontou.
“Temos de ter a capacidade, e a humildade, para perceber que tipo de seleção somos, onde realmente estamos e não podemos ficar agarrados ao Mundial que fizemos em 2023”, assinalou ainda o centro da seleção portuguesa.
“Não estamos ao nível de seleções de Tier 1, como se viu nos jogos que tivemos contra a África do Sul, Escócia ou Irlanda”, admite. “Precisamos de nos bater com seleções como o Uruguai, Canadá e Hong Kong China (adversários de Portugal na Janela Internacional), para mostrar o nosso valor e um râguebi mais atacante e não estarmos o jogo todo a defender”, frisou ainda Appleton.
“Estes são desafios e não desculpas”
Na conversa de antevisão do jogo diante o Uruguai, o selecionador nacional aproveitou para fazer comparações sobre o número de partidas internacionais que cada uma das seleções leva na bagagem. “Tivemos um jogo no verão, ao contrário das outras nações, que tiveram mais jogos e mais tempo de preparação”, comparou.
“É muito difícil, para nós, juntarmo-nos, trazer os jogadores, ter uma semana de preparação, para depois dizermos temos de ganhar”, assinalou. “Não temos jogadores a tempo inteiro, como a Espanha o faz, ou Uruguai, que têm um grande percentagem disponível”, confrontou. “Estes são desafios e não desculpas”, assegurou.
Pese embora essa lacuna, Mannix congratula-se com a utilização de alguns dos Lobos nos Lusitanos, franquia da Federação Portuguesa de Râguebi (FPR) que disputa a Super Cup, prova organizada pela Rugby Europe. “O trabalho feito nos Lusitanos tem sido excelente e tem sido espetacular trabalhar com eles”, reconheceu.
Fixa o planeamento do que quer para a Seleção Nacional. “Tenho falado muito sobre desenvolvimento para os próximos nove meses do calendário. Não estamos na fase de performance, mas, sábado é sobre performance”, salientou.
Na janela internacional, Portugal defronta duas seleções abaixo no ranking, Canadá (23.º) e Hong Kong China (24.º) e o Uruguai (19.º). “Se olharmos e formos realmente honestos, as seleções entre o 11.º e o 20.º acho que podemos competir, acredito que podemos competir com a Geórgia, a equipa japonesa, sem dúvidas”, avançou.
“Quando tivermos todos os elementos juntos, e tempo para preparar, podemos competir com a Espanha. Mas, estes são outros problemas fora do campo, e há muitos que têm que ser abordados. Nós, como equipa, fazemos o que podemos, tentamos fazer o melhor que podemos, com a situação em que estamos colocados”, disparou.
O botão reset
Concretizada a qualificação para o Mundial Austrália2027, Simon Mannix operou uma pequena revolução na equipa técnica.
“Fizemos umas mudanças, faz parte, carregámos no botão reset porque acredito que nos primeiros 12 meses o foco estava totalmente errado”, atestou.
“Acho que mudamos”, confessou e, embora reconheça essas mudanças, salvaguarda que ainda não se vai assistir a “um novo Portugal”, avisou.
Explica as novas prioridades para ter uma seleção mais competitiva em 2027. “O empenho tem que ser no desenvolvimento e não na performance, porque não estamos nessa fase”, recordou.
Recuou à qualificação no REC2025. “Não foi um dos formatos mais difíceis para nos qualificarmo-nos. Graças a Deus, fizemo-lo confortavelmente”, considerou, apesar de ter terminado em 4.º, após uma “exibição pobre na meia-final frente à Espanha” e o desaire, caseiro, no duelo com a Roménia numa partida em que “ficou bastante claro que mentalmente não estávamos bem naquele momento”, relembrou.
“Acho que todos nós somos responsáveis. Todos, Federação e clubes”
O REC fica para trás e Simon Mannix aponta ao presente e futuro.
“Os jogadores envolvidos nos Lusitanos vão certamente confirmar o que estou a dizer. Criámos um ambiente de aprendizagem, de desenvolvimento e um ambiente muito seguro para os jovens e para todos os jogadores expressarem-se e não se sentirem envergonhados e amedrontados perante os jogadores mais velhos”, explicou. “A voz de todos, conta”, afirmou.
A equipa técnica nacional está determinada em “criar um ambiente de aprendizagem ótimo, um lugar feliz para aprender e trabalhar, ao invés de apenas pensar em resultados”, assumiu Simon Mannix.
“Queremos conseguir o processo certo, estamos à procura dos processos, os resultados virão quando conseguirmos os processos certos”, resume.
Aproveita o embalo e deixando um recado para todo o ecossistema do râguebi nacional. “Precisamos de muito mais apoio de todos, da Federação, dos clubes, todos têm um papel a desempenhar, e isso é uma batalha contínua em Portugal”, alertou.
O atual selecionador nacional treinou clubes durante duas décadas e reconhece as necessidades e interesses dos emblemas que fornecem jogadores às seleções.
“Os clubes têm os seus interesses e nós estamos à procura dos nossos interesses a longo prazo para o râguebi em Portugal, que é o que me preocupa”, anunciou. “Não quero que alguém venha depois de mim, pegue no trabalho e encontre o buraco negro que encontrei quando peguei na equipa em 2024”, desejou. “Um buraco em termos de identificação de talentos, de data”, identificou.
Considerando estar a fazer “um trabalho duro”, apoiada por “muitos dos clubes”, ainda assim, considera que “as relações poderiam ser muito melhores”, desejou. “Acho que todos nós somos responsáveis. Todos, Federação e clubes”, rematou.
José Madeira (Grenoble, França) e Cardoso Pinto (Agronomia) estão fora da lista para os três jogos internacionais. “Estão lesionados. Não vou dar informações médicas, não me compete a mim fazê-lo”, disparou, acrescentando mais dois nomes à lista de indisponíveis, por lesão, Diego Pinheiro Ruiz (Provence) e Diogo Hasse Ferreira (Dax). “Faz parte do jogo e abre oportunidade a outros”, encerrou a conversa.























