As eleições para a presidência do Benfica decorrem este sábado, 25 de outubro, e a Sportinforma colocou as mesmas seis perguntas sobre as respetivas candidaturas e as suas ideias para o futuro do clube a cada um dos seis candidatos*.
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Eis as respostas de Martim Mayer (Lista B, ‘Benfica no Sangue’)
1. O que o levou a candidatar-se?
Candidatei-me à presidência do Sport Lisboa e Benfica por um profundo sentido de dever e responsabilidade para com o clube que é parte da minha vida e da minha família. Senti que o Benfica estava a perder a sua identidade, a sua ligação aos sócios e a mística que sempre fez do clube um símbolo único. Cresci inspirado pelo exemplo do meu avô, Duarte Borges Coutinho, e sei que o Benfica precisa de uma liderança moderna, independente e competente, mas que nunca esqueça a sua alma popular e a paixão dos adeptos.
Acredito que chegou o momento de renovar, de trazer uma equipa nova, preparada e focada apenas nos interesses do Benfica, com responsabilidade e rigor. Quero devolver o clube aos sócios, aproximá-lo das Casas do Benfica e garantir uma gestão transparente e profissional. A minha candidatura não é um projeto pessoal, é uma missão coletiva para recuperar o orgulho, a união e o espírito vencedor do Benfica, valorizando os seus sócios e jovens talentos como base do futuro do clube. Quero que o Benfica volte a ser aquele clube que todos sentem como seu, com sentimento, mística e ambição.
2. Qual considera ser o principal desafio do Benfica atualmente?
O principal desafio que vejo no Benfica atualmente é recuperar a sua identidade e a sua capacidade competitiva de forma sustentável. Nos últimos anos o clube tem tido dificuldades em alcançar o nível que se espera, sobretudo pela falta de um modelo desportivo e financeiro consistente. Temos um défice anual médio de cerca de 70 milhões de euros, que tem sido colmatado principalmente com vendas de jogadores da formação, o que não é um caminho sustentável a médio prazo.
É crucial criar uma estrutura que una formação, scouting e equipa principal, para que metade do plantel principal seja composto por jogadores formados no clube e a outra metade por contratações cirúrgicas e planeadas. Além disso, precisamos de reduzir custos de forma significativa, com um modelo de gestão eficiente e profissional, e aumentar receitas, sobretudo através da ampliação do Estádio da Luz e globalização da operação do Benfica.
“O desafio é construir um projeto de médio prazo estruturado, que permita ao Benfica voltar a ser uma potência nacional e europeia”
Mais do que resultados imediatos, o desafio é construir um projeto de médio prazo estruturado, que permita ao Benfica voltar a ser uma potência nacional e europeia, com estabilidade financeira e desportiva, sempre mantendo a alma e o “Inferno da Luz” que nos diferencia. É uma questão de unir competência, paixão e uma visão clara para que o clube conquiste mais títulos e recupere o orgulho dos seus sócios e adeptos.
3. Qual a via que seguirá para equilibrar as contas do clube e reduzir o passivo financeiro?
O Benfica começa cada exercício com um prejuízo corrente médio, com base nos exercícios do último mandato, de cerca de 70 a 80 milhões. Este deve ser o foco central em termos de gestão, procurando equilibrar esta realidade, para que o Benfica não se veja obrigado a vender os seus ativos por necessidade de encontrar o seu balanço financeiro.
E para o conseguir será preciso trabalhar quer na vertente da despesa, como da receita. Começando pelo lado dos custos, vamos introduzir a metodologia Kaizen, uma ferramenta de gestão reconhecida a nível mundial, que permitirá auditar toda a realidade financeira do Benfica, perceber onde há desperdício de recursos, de procedimentos e de custos. No caso do Benfica já sabemos que a implementação desta metodologia resultará numa redução de custos na casa dos 20%, ou seja, um valor na ordem dos 40 milhões de euros.
Do lado da receita, teremos dois pontos centrais na nossa estratégia, o aumento do Estádio da Luz em 15 mil lugares, que irá assegurar uma receita adicional anual na casa dos 33 milhões, aos quais devem ser amortizados 10 milhões anuais durante 10 anos, resultando num encaixe financeiro anual de mais de 20 milhões de euros, desde o primeiro ano. Este projeto terá um custo total de cerca de 80 milhões de euros com uma duração prevista dos trabalhos entre 24 a 36 meses, feito bancada a bancada, o que permite manter aberto o Estádio no decorrer da mesma.
O outro ponto é o Benfica Global, um projeto que visa a verdadeira internacionalização da operação do Benfica, com grande foco em todos os locais com grandes comunidades de Benfiquistas. Iremos começar esta expansão através da criação do Cartão Nacional Benfica Moçambique e Benfica Angola, sendo que no caso de Moçambique já temos o projeto praticamente fechado, com sponsors locais, entre eles a maior plataforma de pagamentos bancários de África, a M-Pesa, que nos garantirá o meio de cobrança da mensalidade do cartão, entre 1 a 2 dólares, que dará acesso a todos os subscritores a uma Fan Zone para assistir aos jogos do Benfica em Maputo, com um ecrã gigante e várias animações dos parceiros locais, comida e bebida, tal como acontece em Portugal nas fases finais de Europeus e Mundiais de futebol. Esta operação aportará uma receita anual superior a 15 milhões de euros. Igual operação será implementada em Luanda.
Adicionalmente, iremos abrir escritórios de representação em vários locais do mundo, com foco inicial nos EUA, Canadá, Suíça e França, onde trabalharemos com Casas Benfica locais para criar bases de dados e perfis dos adeptos do clube, visando, posteriormente, criar escolas de futebol e outros desportos, criar ofertas específicas comerciais para estes adeptos, seja pela via do associativismo, seja pela via comercial.
4. Qual a sua visão a nível de infraestruturas?
A minha prioridade a nível de infraestruturas é clara: quero ampliar o Estádio da Luz e transformá-lo num verdadeiro ícone europeu, capaz de receber mais benfiquistas e gerar novas receitas para o clube. O projeto que apresentámos prevê um aumento de 15 mil lugares, elevando a capacidade total para cerca de 83 mil espectadores — nove mil nos topos, no terceiro anel, e seis mil no primeiro piso, junto às zonas corporate e camarotes. É uma obra estimada em 80 milhões de euros, com um custo médio de cerca de 5 mil euros por lugar, com financeiramente dedicado. Este financiamento poderá vir de duas vias: através de uma parceria com uma entidade ligada ao entretenimento e grandes eventos, ou pela securitização antecipada dos bilhetes correspondentes a estes lugares. Tudo isto sem comprometer a saúde financeira do clube, e sempre em diálogo com os autores do projeto original do estádio.
Ao mesmo tempo, quero concretizar uma ambição antiga dos benfiquistas: a criação da Benfica Campus das Modalidades. Este será um complexo moderno e multifuncional, onde as nossas equipas seniores e de formação, masculinas e femininas, terão as suas próprias casas, concentradas num só espaço de excelência. O Benfica Campus das Modalidades será um símbolo de unidade e identidade desportiva, retirando pressão logística do Pavilhão da Luz, à questão habitacional de todos os atletas e staff, especialmente da formação, e reforçando o Benfica como potência em todas as modalidades.
No Benfica Campus, no Seixal, temos um plano ambicioso e profundamente humano. Além da criação do colégio internacional, com capacidade para 600 a 1.000 alunos, vamos aumentar a capacidade residencial, incluindo possibilidades de estadias de curta duração para familiares dos atletas, de forma a aproximar as famílias do quotidiano dos jovens jogadores. Pretendemos também criar um segundo estádio, que será a nova casa do futebol feminino — o Inferno da Luz, um espaço dedicado, moderno e capaz de receber a energia e a paixão das nossas jogadoras e adeptos. Juntamente com isso, vamos aumentar o número de campos de treino, dado o uso intenso dos relvados atuais e a necessidade de manter a qualidade dos treinos e a saúde dos nossos atletas.
Outra medida inovadora será a abertura parcial do Benfica Campus a visitas de sócios, especialmente em dias de jogos do futebol feminino. Queremos que o Seixal seja cada vez mais vivido pelos benfiquistas — um espaço de partilha e emoção, onde o clube, o futebol e a família Benfica se encontrem.
Em suma, o nosso plano passa por um Estádio da Luz ampliado e vibrante, uma Benfica Campus das Modalidades que una o clube e um Seixal que se abra aos sócios e forme campeões dentro e fora do campo — um Benfica com alma, estrutura e visão de futuro.
5. Qual a primeira medida que tomará após a eleição? Qual será a prioridade depois das eleições?
Reunir todas os funcionários do clube e dizer-lhes que serão fundamentais para o Benfica tomar um novo rumo, de sucesso desportivo, de equilíbrio financeiro e de proximidade com os sócios e com todos os que diariamente trabalham no clube.
Simultaneamente, a entrada de Andries Jonker no futebol do Benfica é fundamental para o projeto que proponho. Vejo-o como a pessoa certa para trabalhar com o José Mourinho e Mário Branco e para trazer estabilidade e organização à estrutura do futebol do clube. Jonker tem uma vasta experiência internacional, tanto como treinador como na coordenação de formação, tendo passado por clubes e seleções importantes, sempre com um foco muito claro no desenvolvimento de talento e em jogar bom futebol.
Para mim, ele será uma peça-chave para ajudar a equipa principal a potenciar todo o seu valor e criar uma estrutura sólida e integrada entre formação, scouting e futebol profissional. Acredito que a sua visão e know-how serão essenciais para mudar o paradigma atual do futebol do Benfica, que precisa de mais do que apenas um treinador, mas de uma liderança que apoie e sustente o sucesso a médio e longo prazo.
6. Como vê o Benfica daqui a 4 anos, sob a sua liderança?
Vejo um Benfica estruturado, com uma estratégia e um plano implementado, vitorioso em todas as vertentes desportivas em que compete, equilibrado e saudável do ponto de vista financeiro, um clube globalizado, próximo de todos os seus sócios e adeptos. Acima de tudo, um clube unido em torno de uma paixão que não conhece fronteiras.
*A Sportinforma não recebeu ainda as respostas da candidatura da Lista C, ‘Benfica Vencerá’, encabeçada por João Diogo Manteigas.























