Aterrou às 05h57 desta terça-feira, no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, proveniente do voo TP74 vindo do Rio de Janeiro, Brasil.
Uma hora depois, de calções pretos e t-shirt preta (onde se lia “Women of the wave”), a empurrar sacos com pranchas de surf, acompanhada do treinador, John Tanter, trouxe no passaporte o carimbo da qualificação para o Championship Tour (CT2026), circuito de elite da Liga Mundial de Surf (World Surf League).
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Yolanda Hopkins é a primeira surfista portuguesa a entrar no CT. “Para dizer a verdade, acho que agora, a voltar para casa, é que vou ter as emoções todas aqui à pele”, contou aos jornalistas na zona das chegadas.
Abraçou elementos da equipa, o presidente da Associação Nacional de Surfista (ANS), Francisco Rodrigues e confessou ter tido “as semanas mais emocionais da minha vida”, referindo-se às duas etapas do Challenger Series (CS), circuito de qualificação da WSL, na Ericeira (Ribeira de Ilhas) e Saquarema (Rio de Janeiro).
“Tenho estado a trabalhar há tantos anos junto com o meu treinador e com a nossa equipa toda. Era aquela questão de quando e não se… tinha muita confiança que iria chegar lá”, adiantou.
Vencedora em Saquarema, primeiro triunfo no circuito secundário da WSL, Yo-Yo fez o balanço da temporada, embora faltem disputar duas etapas, em janeiro (Pipeline, Havai) e março (Newcastle, Austrália).
“No início do ano, estava bastante confiante com os resultados que tinha estado a ter, consistentes no top 5 do Challenger. Depois consegui um segundo (África do Sul)”. No Brasil atingiu o topo do pódio e selou a entrada no circuito mundial.
“Agora, qualificar-me para o CT é muito especial. Ainda não consigo meter isso na cabeça”, confessou a surfista algarvia que quer terminar a temporada no topo do ranking. “Já que estou em número 1 no Challenger, quero ganhar o troféu também. Meter ali na prateleira dos troféus”, avançou Yolanda Hopkins.
“Pensei em desistir”
Recuou ao ano passado, ao mesmo local onde garantiu agora a qualificação para o CT. Considera o momento decisivo para o que viria a suceder 12 meses depois.
“Foi aquela questão de estar tão perto. Acho que muitas pessoas quando chegam tão perto e não conseguem atingir o objetivo caem no desfecho”, apontou.
“Para mim, foi um bocado ao contrário. Acho que saí do Brasil com ainda mais força e mais fogo na barriga”, relembrou a surfista que bateu à porta da elite mundial do surf em duas ocasiões, 2019 (então como WQS, World Qualyfing Series) e no ano passado, no qual ficou à distância de uma bateria.
Questionada sobre o que mudou do distante ano 2019 para cá, respondeu sem se engasgar: “O surf é igual. É mesmo só a cabeça”, disparou. “Chegamos a um nível em que toda a gente surfa top mundial, mas depois a diferença é como a cabeça gere o stress e a maneira de nós gerirmos os heats”, explicou.
“Não foi nos outros anos, e estive tão perto, mas talvez não entrei porque não estava pronta mentalmente para dar aquele passo para a frente. Acho que, agora não há dúvida”, vincou Yolanda Hopkins.
Na hora das celebrações, deixou uma nota curiosa. Num par de ocasiões sentiu-se a “surfar o meu melhor e nunca recebia os scores que merecia”, revisitou.
Pedras que quase desviaram Hopkins do caminho da elite. “Até pensei em desistir, mas tinha sempre o meu treinador e as pessoas atrás de mim a acreditar em mim, deu-me um boost extra e fez-me acreditar em mim, outra vez”, contou.
“Vou fazer estragos no CT”
Introduz o treinador John Tanter, na conversa. “Ele é mesmo a figura pai. Já passámos por tanta coisa juntos. Ele estava lá quando o meu pai faleceu e foi um pilar para mim, para reconstruir a minha vida. Digo sempre isto, não tinha chegado aqui sem a ajuda dele, nem da mulher”, reconheceu.
“No início, muita gente sabe que eles pagavam para fazer campeonatos e depois tentava, aos poucos, pagar de volta. E se não tivesse essa ajuda, esse carinho deles, não estaria aqui onde estou neste momento”, reforçou.
Yolanda Hopkins está qualificada para o Circuito Mundial, onde terá “muitas estatísticas” pela frente. Mas não quer ser só um número. “Estou bastante confiante. Não só eu, mas toda a gente que me vê surfar, e mesmo a WSL em si, está confiante que vou fazer estragos no CT”, antecipa.
“Vou comprar um Lego gigante. Sou uma criança ainda”
Ainda no aeroporto deixou, para o imediato, três desejos.
“Estava a falar com o meu treinador, a minha recompensa para mim vou comprar um Lego gigante. Para passar um bocadinho de tempo, sou uma criança ainda”, contou a bicampeã europeia WSL e Olímpica (Tóquio2020 e Paris2024) de 27 anos.
“E ir para casa, vou para o Alentejo (Sines), tentar dormir um bocadinho, provavelmente, não vou conseguir. Depois, tenho coisas para fazer com patrocínios e surfar”, adiantou.
Por fim, “visitar a minha família, já não os vejo há muito tempo. É a parte que as pessoas muitas vezes não sabem. Mesmo estando tão perto, vivem no Algarve, passo 4 ou 5 dias em Portugal e não tenho possibilidade de os ir visitar”, admitiu.
“Tenho um sobrinho e uma sobrinha que, cada vez que os vou ver, estão um pé maior do que estavam. O meu sobrinho tem 8 anos e já está quase na minha altura”, sorriu.
“É a parte um bocado triste da nossa vida. Estou a fazer o que gosto e amo. Vamos ter que deixar um bocadinho essa parte para trás e apenas ficar com a comunicação de videochamada. O que é um bocado infeliz, mas sei que tenho grande apoio lá em casa”, finalizou.